A Sexta Coluna

9.12.08

Blu-ray




(clicar para ver detalhe)







Release Information:
Studio: Warner
Region FREE
Aspect Ratio: 1.78:1
Feature 17.5 Gig
Single-layered 1080P
Blu-ray VC-1 encode

28.11.08

Como diz a canção...









... and I was there

1.6.08

Cheira-me que para pouco

O mini-fenómeno Passos Coelho dificilmente sobreviverá tal como veio ao mundo: uma bizarra aliança de conveniência entre a cacicagem menezista (comandada sorrateiramente pelo grande castor), alguns debitadores de tiradas blogo-liberais e os últimos ressentidos do cavaquismo. Nesta história, Passos foi apenas um instrumento que soube usar bem os seus instrumentistas. No futuro, veremos para que é que isto serviu.

7.10.07

Já no outro jogo, nada de novo a assinalar

A França e a sua irritante mania de repetir a História e eliminar o Brasil dos campeonatos do mundo.

6.10.07

Confesso que à partida para este mundial estava com pouca pachorra para a Inglaterra. Fez um torneio das seis nações preguiçoso e, de há uns anos para cá, tem-se especializado num rugby macilento, muito dependente dos drops e penalidades do Jonny Wilkinson. Na primeira fase do mundial, confirmou-se aquilo que se esperava. A inglaterra jogou feio, foi vulgarizada pelos springboks, e só ganhou às equipas do Pacífico Sul - lá está - graças ao rigor de Jonny Wilkinson. Hoje, porém, contra a Austrália, os ingleses transfiguraram-se. Recuperaram não sei quantas bolas, inventaram belíssimas jogadas à mão, e conseguiram empurrar o jogo sistematicamente para o campo australiano. Wilkinson resolveu, mas o mérito da vitória vai todo para o pack da frente. Pareciam cruzados na Galileia. Os australianos, atarantados, pouco puderam fazer. George Gregan (o preto mais "beto" do campeonato) esteve enervante e enervado; Mortlock, um desastre nos pontapés; e Lote Tuquiri, com a equipa toda a marrar na retaguarda, andou desaparecido. Entretanto, um outro jogador discreto mas eficaz começa a povoar os sonhos homoeróticos da plateia medievo-fetichista ...


5.10.07

Being Hiroshi Sugimoto





Duas patéticas tentativas de imitar as fotografias de Hiroshi Sugimoto, na série seascapes. Estas foram tiradas no mar Tirreno, perto de Capri, em Julho passado.

3.10.07

o monólogo de Aguirre

I am the great traitor. There must be no other. Anyone who even thinks about deserting this mission will be cut up into 198 pieces. Those pieces will be stamped on until what is left can be used only to paint walls. Whoever takes one grain of corn or one drop of water... more than his ration, will be locked up for 155 years. If I, Aguirre, want the birds to drop dead from the trees... then the birds will drop dead from the trees. I am the wrath of god. The earth I pass will see me and tremble. But whoever follows me and the river, will win untold riches.

Claro que isto em alemão tem muito mais pinta.

30.9.07

Rio sem regresso

Nas primeiras imagens, a neblina espalha-se pelas montanhas e selvas do Novo Mundo. Em fila indiana, lamas, soldados e escravos, carregando às costas com canhões e donzelas, avançam em busca do El Dorado. É a expedição de Pizarro, a descer os Andes, tal como Werner Herzog a pensou e filmou em Aguirre, a cólera dos deuses, ou o mais onírico e fantasmagórico dos filmes.

Segundo reza a História, Ian Curtis ter-se-á suicidado depois de rever Stroszek, do mesmo Herzog. Aguirre não dá para isso. Klaus Kinski é um explorador exemplar. Com o seu ar alucinado, longe do Actors Studio, busca a imortalidade. Para ele, a morte só é admissível após cumprir a missão. E uma vez cumprida a missão não haverá morte capaz de o matar. Aguirre é um totalitário e um louco porque não admite recuos racionais perante a lucidez da (sua) vontade. Se, em 18 de Maio de 1980, Ian Curtis tivesse visto Aguirre, mesmo sem El Dorado à vista, em vez de suicidar-se teria eliminado, um a um, todos os seus companheiros dos Joy Division.

Em muitas medidas, este filme antecipa Apocalypse Now. Lá está o rio e o seu curso como desígnio. Lá está a selva, e os seus perigos, como ameaça. Lá está a insanidade como processo de descoberta. E lá estão os fantasmas e os sonhos, no fim, como escape. "I watched a snail crawl along the edge of a straight razor. That's my dream. That's my nightmare. Crawling, slithering, along the edge of a straight razor ... and surviving", dizia o Coronel Kurtz perdido no seu labirinto. Ou, como disse uma das personagens de Aguirre, agarrada à perna cravejada de flechas: "isto não é uma jangada. Aquilo não é uma floresta. Isto não é uma flecha. Nós só imaginamos flechas porque as tememos ...".

Wire über alles


Na capa deste mês, Robert Wyatt, separado à nascença de Donald Sutherland, Orson Wells e Walt Whitman.

Já não me lembro se fui eu, se foi alguém por mim, que disse que preferia pornografia ao erotismo estilizado a preto e branco. Seja como for, Nobuyoshi Araki é um mundo à parte.

20.9.07

A contra-revolução que veio de dentro

Há o antigo regime e há a revolução. E depois há este artigo do Rui Ramos, que, pelo conteúdo e pelo tom, funciona como uma espécie de thermidor português na guerra de opiniões sobre a guerra do Iraque.

17.9.07

16.9.07

Os chabals também se abatem (II)

O segundo ensaio de Chabal, no jogo de hoje contra a Namibia, fez-me lembrar Colossal Youth - quem conhece os Young Marble Giants, sabe do que estou a falar. Em poucos segundos, toda a energia do mundo ali concentrada .

10.9.07

Os chabals também se abatem

Dos fracos

Dos fracos não reza a História. Errado. Dos fracos, como figurantes ou actores secundários, reza a História dos fortes.

Choque ideológico

Velvet, Magic Band, os primeiros Roxy Music. Cada vez mais me convenço de que a melhor música pop nasce do choque ideológico.

O povo livre contra o "capitalista colectivo"

A conversa de alguns “liberais” assemelha-se a uma tradução ordinária e apressada da teoria da luta de classes. Em vez de proletariado ou classe oprimida há “cidadãos”, “pessoas”, “indivíduos”. Em vez de burguesia ou classe opressora há o Estado com letra maiúscula. O Estado dedica-se a explorar o cidadão, ficando-lhe com a mais-valia. O bom do cidadão é consumido a tentar libertar-se das garras estatais. Uma luta heróica que esperam poder conduzir a uma sociedade sem Estado, assente no pressuposto do bom selvagem, hoje transformado em homem de mérito, negócios e livre iniciativa. Curiosos, estes “liberais”. No meio de tanta dialéctica marxista nunca lhes ocorreu que, no dia em que o Estado acabasse, eles seriam dos primeiros a ficar sem cabeça.

21.8.07

Produtos naturais

O progressivo aumento da esperança média de vida (e da qualidade dessa vida) é uma vitória da química sobre a natureza no seu estado natural.

9.8.07

Sensibilidade 6.ª coluna

Com Death Proof - onde o Ricardo Gross num puro gesto de amiguismo diz encontrar uma sensibilidade do tipo 6ª Coluna - volta o interesse pelo cinema de género e baixo orçamento. Para começo de conversa, aconselho este livro, de Laurent Aknin. Duzentas e tal entradas sobre outras tantas figuras da série b à série z. Na capa, uma fotografia de L'Isola degli Uomini-Pesce com a anti-tarantiniana Barbara Bach levada em braços por uma espécie de Darth Vader aquático.

Barcelona

Passei três dias em Barcelona e reparei que a cidade está mais 'cosmopolita' do que nunca. Aos Gaudis e malabaristas juntam-se agora, a cada esquina, em cada passeio, os casais gay, as bicicletas, os estudantes americanos e as lojas e lounges com adereços cor-de-laranja. Por causa dos americanos, lembrei-me várias vezes do Barcelona, de Whit Stillman, que vi há uns meses e de que não gostei mesmo nada. O viciante refrão de Young Folks ocorreu-me frenquenetmente, talvez por, na minha cabeça, esta música ser dos I’m from Barcelona (que na realidade não são de Barcelona) e não, como de facto é, de Peter Bjorn And John. No meio disto, devido à proximidade das intercalares de Lisboa, passei demasiado tempo em maçadoras comparações de “cariz urbanístico”, com Barcelona, em regra, a levar a melhor. As imagens e sons, os tiques de raciocínio e reflexos pavlovianos em que me emaranhei, fizeram desta Barcelona um lugar mental algo cansativo. Cosmopolitanismo pós-qualquer coisa, jovem e bem disposto, de braços abertos para a festa. Acresce que, como faço em todas as cidades para onde viajo fora de Portugal, fartei-me de andar a pé. Só que, por motivos nobres como só os familiares hoje em dia são, tive que encurtar para menos de metade a largura da minha passada habitual. Ao cansaço cerebral somou-se o físico. Barcelona, nesta altura do ano, com trinta e muitos graus, apenas se justificou por motivos logísticos – foi porto de partida e chegada de um barco por onde andei. Mas, passada uma semana e dissipados estes factores em boa medida pessoais e intransmissíveis, olho para esta viagem com a sensação idêntica à daqueles sonhos em que voamos sobre a copa das árvores. A ideia com que fico é que tanto fez ter sido Barcelona como outro sítio qualquer, esta Barcelona adolescente, dos Stillman ou Bjorns, ou a monumental, ou a medieval, de pedra gótica e ruas estreitas, ou a espanhola, dos cartazes desbotados nas esplanadas das Ramblas a anunciar paelhas com péssimo aspecto, ou a radical e moderna de Mies Van der Rohe. Foram três grandes dias. Barcelona não foi mais que o pano de fundo onde o que fica se passou.

7.8.07

Jazz em Agosto (de 1979)


Essa categoria adorável que é o free jazz para intelectuais esquerdistas de sensibilidade europeia acabou há cerca de trinta anos. Depois disso, Lester Bowie voltou-se para trás, para Louis Armstrong, para New Orleans, para o east of East St. Louis de que Tom Waits fala.

14.7.07

4.7.07

Escravos das galés

Quando lhe perguntaram o inevitável - se, ao escrever, as suas personagens ganhavam vida própria e ditavam o curso dos seus romances - Nabokov respondeu: "as minhas personagens são escravos das galés".

Spice Milfs

Este resumo não está disponível. Clique aqui para ver a mensagem.

Os quartos e as salas onde passámos muito tempo, os corredores por onde passámos muitas vezes , dão origem a memórias fortes e recorrentes. Abandonados os lugares, com o avançar dos anos, essas memórias vão-se esbatendo, ao ponto de só ocorrerem imediatamente antes de adormecer ou já durante o sono. Até que um dia, quando regressamos aos locais habitados na infância, o termo de comparação já não é a memória que deles tivemos mas a imagem difusa em que os sonhos os transformaram.

Um pouco de equidade

Fascismo higiénico, nacional-socialismo antitabagista, pinochetismo gastronómico, franquismo sanitário, portismo dentário. Por que não, uma vez por outra, comunismo, estalinismo, maoismo, Kim Il-sungismo, major tomezismo ...?

21.6.07

Reviver o passado em Brideshead, de Evelyn Waugh, está arrumado no escaparate gay e lésbico da Fnac. Digamos que é uma espécie de "Plano Nacional de Leitura" meets "Formação contra a homofobia" em versão off-arraial.

Depois de Gershwin, Ellington, Sinatra, Garfunkle, Lou Reed

O Martin Parr que há em mim




Nice (mas não de nice), Junho de 2007, domingo.

20.6.07

No início de Little Big Man, de Arthur Penn, paira uma das mais neilyoungescas e adoráveis ideias do Cinema. Um velho muito velho diz para o homem que o está a entrevistar "Turn that thing on!" ("that thing" é um gravador de fitas), e depois, ao mesmo tempo que a imagem passa para as grandes planícies do Missouri, começa: "one hundred eleven years ago, when I was ten years old, my family was wiped out by a bunch of indians...". One hundred eleven years ago, when I was ten ... O homem tinha cento e vinte e um anos.

17.6.07

Às tantas, no imperdível programa dos Quase Famosos (ouvir aqui), o Nuno Costa Santos lança a pergunta ao Pedro Adão e Silva: qual é o Neil Young que preferes?
É uma das perguntas mais difíceis que conheço. Eu gosto de todos os Neil Young do mundo - do baladeiro, do rockeiro, do para cantar a volta da fogueira e do eléctrico, com ou sem Crazy Horse, do rural e do citadino, do político e do romântico, e até daqueles discos embaraçantes da década de 80, como Re-a-ctor, Landing on Water ou Life. Mas, a ter que escolher um - um só - escolheria, talvez, Rust Never Sleeps. Porque sintetiza bem toda a carreira de Neil Young (começa acústico e a solo e segue com os Crazy Horse), porque tem a melhor canção jamais escrita sobre o declínio de uma geração (Thrasher), porque alcança, em duas versões, o zenite do rock 'n' roll (My my, hey ... hey, my my), e porque é lá que se encontram os quinze segundos iniciais de música que mais vezes por dia me vêm à cabeça. Estes:

16.6.07

Três não obscuros objectos do desejo trazidos de Cannes: o histórico 50 ans de Cinéma Américain, de Jean-Pierre Coursodon e Bertrand Taverier; Le Cinéma américain des années 70, de Jean-Baptiste Thoret; e o documentário Midnight Movies - from the margin to the mainstream, realizado por Stuart Samuels.
O primeiro - que já conhecia bem na sua versão 30 ans de ... - confirma a competência dos franceses a escrever sobre cinema clássico americano. O documentário deixa-se ver mas não dispensa a leitura do livro homónimo, de Jim Hoberman e Jonathan Rosenbaum, a partir do qual foi adaptado. Agora, o livro de Jean-Baptiste Thoret tem sido uma belíssima surpresa. Contava lê-lo de forma salteada e a verdade é que, desde que lhe peguei, ainda não consegui pousá-lo. É certo que o meu interesse pelo cinema dos anos 70 tem crescido - com uma mão a tapar a cara, admito que já faltou mais para encomendar a obra completa do Hal Ashby - mas este livro, para além do tema, para além da fluência da escrita, é brilhante na forma como entra nos filmes dos movie brats e companhia, relacionando temáticas, realçando marcas estéticas, confrontando as linhas mestras do cinema da década de setenta com as do cinema do pós-guerra, e dando um retrato bem mais substancial do que o de Easy Riders, Raging Bulls: How the Sex, Drugs and Rock 'N' Roll Generation Saved Hollywood, de Peter Biskind.

14.6.07

O que é feito de Pamela Anderson?




Fotografias de Marilyn Minter para o último número da Pakett.


Meu amigo, o segredo - que não é segredo nenhum - é jantar tarde, chegar muito tarde, e não deixar nunca, mas mesmo nunca, que o chinês ou a velha matreira que espreitam pelas nossas costas deitem as mãos à máquina* onde jogamos. Para isso, convém, sempre que se vai buscar guardanapos, bloqueá-la pondo as chaves na ranhura das moedas.

(* A máquina de que falo não é uma fruit-machine qualquer. Não tem cerejas, nem cifrões, nem laranjas, nem ferraduras, nem double bar, mas apenas "bares", "melancias" e "setes". O mínimo que se ganha com uma combinação ganhadora é vinte vezes o que se apostou ("single bar" nas três colunas, jogando com uma só moeda). E é por as probabilidades de dar dinheiro serem bastante mais altas que já são poucos os casinos onde esta máquina existe)

12.6.07

Em Cannes

Direita dura

e direita mole (numa edição melhor).

Côte D’Azur - notas culturais

Casino: só vou a casinos a milhares - vá lá, centenas - de quilómetros de casa. A máquina de que mais gosto é simples e rara. Só tem três combinações ganhadoras: três “Bar”, três “melancias” ou três “setes”; todas as outras dão zero. É também a única máquina que conheço onde se pode jogar de uma forma quase racional. Como na banca francesa, é possível dentro da aleatoriedade encontrar tendências e constantes. Por exemplo, se sair uma combinação ganhadora depois de um período em que não saiu nada, é provavel que nas dez jogadas seguintes essa combinação saia mais uma, duas ou três vezes (é o chamado “chorrilho”). Também é importante deixar a máquina descansar. As pausas de cinco a dez minutos tornam-na mais generosa. Por isso, ganha-se eficácia ao jogar em duas ou mais ao mesmo tempo. É, ainda, uma máquina com que se pode ter um diálogo mental. Já estou com saudades.

Carne: em França, sê carnívoro. Na Provença, sê carnívoro sanguinário. Fois gras, bife tártaro ou, na pior das hipóteses, extremamente mal passado.

La Croisette: um passeio de excêntricos estéticos. Nós, por cá, há anos que nos ficamos pelos blazers do André Gonçalves Pereira.

Jogo: num casino, uma velhota sente-se mal e estatela-se no chão. Durante uns segundos, as pessoas que estão à sua volta páram de jogar e olham-na. Só uma sai do lugar para ver o que se passa. Pouco depois, garantida que está a ajuda, todas as outras viram a cara e voltam ao jogo. No chão, enquanto não chegam os médicos, a velha expele golfadas de sangue. Não se ouve nada a não ser o barulho das moedas a bater no tabuleiro das slot-machines.

Praia: Taormina, as ilhas gregas, Ibiza - as margens norte do Mediterrâneo são uma montra de orgulho e prepotência sexual. A Côte D’Azur não é excepção. Há uma saudável falta de vergonha e uma alegria em olhar e ser olhado. Para o bem e para o mal, as nossas praias têm mais areia e muito mais pudor.

Hotéis: a velha Europa é também a Europa dos grandes hotéis históricos: do Carlton ao Martinez ao Negresco ao Maeterlinck ao Hermitage. Hotéis belle époque, estilo art deco, onde se passam filmes do Hitchcock, e que inspiraram outros hotéis art deco – como o Copacabana Palace – onde se passam outros filmes do Hitchcock.

Mar: Azul-turquesa, mas com boas livrarias por perto.

Mónaco: demasiado dinheiro e carros bons para tão pouco espaço.

Noite: Tender is the Night tem passagens em Cap d’Antibes. Mas, na Europa do Sul, as mulheres há muito deixaram de ser passivas. Andam de mãos dadas. Vestem-se para despir. Tomam a iniciativa. Marcam o território.

Noite (2): Cars & girls, como na música dos Prefab Sprout.

5.6.07

Penso num dia bem programado e penso em Mishima. Segundo reza a história (ou será a lenda?), na madrugada do dia 25 de Novembro de 1970, acabou de escrever O Mar da Fertilidade e, nessa manhã, enviou a prova para o editor. À tarde, suicidou-se.

31.5.07

Zodiac. É o facto de ser maçador que o torna tão bom. Porque é longo, circunstanciado e meticuloso, o filme consegue passar para o espectador aquilo que as personagens vão sentindo: da curiosidade ao desconforto ao cansaço à angústia ao desespero. E é isso que é o cinema. Numa palavra - como disse Samuel Fuller - emotions.

Whitman XXL. Do tamanho da obra.

28.5.07

Não recordamos dias, recordamos momentos. Por isso - e para além disso -, tentamos fixar instantes, não só para lembrar mais tarde, mas como forma de consciencializar o presente. Uma espécie de cogito ergo sum instantâneo. Ou já uma nostalgia do que ainda está a acontecer. Sucede, por vezes, em alturas de grande euforia, quando se está alcoolizado e se pára para fazer xixi: isto é agora; eu sou eu; eu estou aqui; eu estou feliz.

Paul Bowles, logo no início das suas memórias, tem esta passagem notável:

"Eu estava sentado no baloiço, sob um dos áceres gigantescos, envolto pelos cheiros e sons de uma tarde estival do Massachusetts. Deixei-me cair para trás, pendurado de cabeça para baixo, quase a rasar a relva, e assim fiquei. Nessa altura, um relógio dentro da casa deu as quatro horas. Tudo recomeçou. Eu sou eu, o momento é agora, e estou aqui. O baloiço moveu-se um pouco, deixando-me ver as profundezas verdes de folhas de ácer e, mais acima, o céu incrivelmente azul."

Passo os anos inteiros à espera que o Sporting ganhe qualquer coisa. Mas, no fim do dia, a imagem que fica é a de um grupo de excursionistas da Sertã, estendidos na mata do Jamor, a prepararem-se para assar um porco inteiro meia hora antes do começo do jogo.

24.5.07


Este ofereço eu.

19.5.07

No seu primeiro disco a solo - o brilhante Woke on a Whaleheart - Bill Callahan, em passo country digno do Johnny Cash de Folsom Prison, canta: "a man needs a woman or a man to be a man". Tempos modernos, é o que é.