3.3.06

Não tenham medo destes freaks


Música pop e América são realidades inseparáveis. A primeira nunca existiria sem a segunda e a segunda, ou o seu imaginário, muito tem crescido à custa da primeira. Por outro lado, tal como a América é a soma de dezenas de Estados com substanciais diferenças a vários níveis, a musica pop é o somatório das muitas musicas pop. Das de anteontem, das de ontem, das de hoje, das mais pop(ulares) e das menos pop(ulares), de todas as correntes e categorias em que se decompõe, condensa e multiplica.

Weird american pop music é apenas uma dessas, virtualmente infinitas, designações. Traz a reboque as ideias de garagem, de substâncias psicotrópicas, de do it yourself, nem sempre com muito talento, mas quase sempre muita pândega. Foi por aí que os Flaming Lips começaram a marcar pontos, já lá vão uns valentes anos.

Ao certo, vinte e dois. Desde o hardcore, mais iconográfico que sónico, passando pela weird freak scene (onde reinaram juntamente com os Butthole Surfers) e pelo psicadelismo épico, até Yoshimi Battles The Pink Robots - um disco duvidoso que no entanto se ouve muito bem -, os Flaming Lipps foram evoluindo/involuindo (riscar o que não interessa) por distintas águas da chamada indie pop.

Mas o que de melhor os Lips fizeram foi o DVD Fearless Freaks, editado no ano passado, com o filme retrospectivo de toda a carreira do grupo realizado por Bradley Beesley. Uma espécie de encontro de Brian Wilson com Roger Corman no CBGB para preparar uma viagem ao Grand Canyon, intercalado com depoimentos de gente vária - membros da banda, avós, vizinhos, irmãos, outras celebridades - e cenas da vida doméstica numa Oklahoma City à beira de um ataque de riso-barra-nervos. Um grande video que faz esquecer por momentos a péssima fama ligada ao conceito de rockumentário.