28.6.06

Os futebolistas não choram

Os grandes momentos dos Mundiais não são os golos, nem os dribles, ou as aberturas, desmarcações, triangulações, defesas, ou voos ou sistemas tácticos, e muito menos os adeptos nas bancadas. São as despedidas. Há oito anos, após a eliminação da Espanha do Mundial de 98, Valdano escreveu um texto que nunca mais esqueci. Nele chamava a atenção para os olhos do Hierro, no final de um jogo em que a Espanha tinha ganho à Bulgária por seis a um, mas que, por força dos resultados anteriores (derrota com a Nigéria e empate com o Paraguai), de nada serviu. Apesar da goleada, a Espanha caía e despedia-se do campeonato. E Hierro, um protótipo de virilidade em qualquer canto do mundo, chorava. Um choro ao mesmo tempo discreto e intenso. Uns olhos pretos, enormes e parados. Nesse dia, todos os homens quiseram ser como o Hierro.
Hoje - já se tornou um hábito -, a Espanha voltou a ser precocemente eliminada. Teve azar, pois era suposto a França ter sido primeira no seu grupo. Acabado o jogo, o realizador concentrou-se apenas na festa francesa. Não mostrou uma única imagem dos jogadores espanhóis. Esteve bem. Depois das lágrimas do Hierro, nada mais resta para filmar nas despedidas espanholas.