Deitar fora a discografia completa do Brian Eno, as sinfonias de Brian Wilson e toda a electrónica (de Stockhausen a Stock, Hausen & Walkman). Poupar a mesada e deixar de comprar singer songwriters deprimidos, novidades escandinavas, remisturas de bandas inglesas com nome japonês por disco jockeys vienenses. Edição especial atrás de edição especial de One Nation Under the Groove. Largar o Chico, a Nina, o Scott, o Lou Reed, a Construção, Wild is the Wind, Copenhaga e Berlim. Os drones minimais, as novidades da Wire, as novidades, a Wire, e o disco sound (Tom Moulton, que não pára de tocar, incluído).
Há não muito tempo (não era eu uma criança), na outra ponta do mundo, andei quilómetros de táxi para encontrar uma gravação pirata de Miles Davis (entretanto editada). Hoje, isso parece-me absurdo. Uma perda de tempo e de dinheiro. Coisa de roto. Como prefirir os Stones aos Beatles, os Beatles aos Stones, ou os Velvet Underground, com ou sem Nico, a ambos. Nada disso agora interessa. Como deixou de interessar o modo automático com que o cérebro, ao auscultar a palavra “architecture” (com assento no “cture”), processa em neon as letras s,t,e,p,h,e,n, m,a,l,k,m,u,s. Fui a uma festa, e ouvi pela primeira e única vez uma música. Nunca mais esqueci: alguns minutos de baixo, as escovas a passar pelos pratos, uma voz banal a cantar de forma banal palavras que não fixei. É um hábito ficar com músicas na cabeça. Acordar com músicas na cabeça. Comer com músicas na cabeça. Pensar com músicas na cabeça. Julgar, após escutar Desolation Row (Highway 61 Revisited), que nada mais pode surpreender. Ficar horas seguidas a ouvir Bang On the Ear (Waterboys), e achar que o melhor da música é sensação de auto-estima que inspira, quando inspira. Descobrir um single no meio do lixo em caixotes arrumados debaixo dos escaparates. Ou ver The Last Picture Show sem imagem e advinhar a canção que se segue. Hábitos que deixaram de ser. Agora só ouço a Buda Machine. Habitualmente. Pelo menos durante os próximos três dias.
29.6.06
Sou uma pessoa de hábitos
p. by Eduardo
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