20.7.06

A paz

Citando Leonard Choen: existe uma guerra. Só que esta não é entre ricos e pobres, mulheres e homens, esquerda e direita, ou, sequer, entre os que dizem que há uma guerra e os que dizem que não há. É entre Israel e um conjunto mais ou menos variado e variável de ONGs, Estados e proto-Estados. Nos últimos dias, a guerra avançou. Muito resumidamente: dois soldados israelitas foram raptados(?!), Israel bombardeou o Líbano e do Líbano responderam, bombardeando Israel. De fora, entidades caducas (ONU e Europa), que teimam em não querer deixar a coisa ir até ao fim, pedem tudo e mais um par de botas: "um cessar fogo imediato", "proporcionalidade na reacção", "troca de prisioneiros", "intervenção humanitaria" e, imagine-se, "a paz". Sucede que "a paz" não lhes faz a vontade. Está fora dali, num outro lugar, num outro país. O País de Gales, onde, por estes dias, apesar do Sol abrasador e de uma ou outra camisola da selecção inglesa, se reuniu toda a paz do mundo. É vê-la nas escarpas sobre o mar; nas praias de areia branca onde não há sentimento de culpa por não ficar; em pacatas cidades costeiras, habitadas por albatrozes, a fazer lembrar O Nevoeiro de John Carpenter; nos vales mais verdes que o de Maureen O'hara; por entre os trilhos (secundarissimos) que rasgam campos de feno. Sol por todo o lado, paz por todo o lado, de Tenby a Strunble Head, de Aberystwyth (impronunciável) a Hay-on-Wye.
O mundo está, como de costume, perigoso. Conquanto haja uma passagem para Gales, deixemo-lo estar.