Em Portugal, até há relativamente pouco tempo, tatuagem era coisa de prisioneiros e ex-combatentes. E coisa de homem. Hoje, estão por todo e em todos os lados. Não se pode sair de onde quer que seja sem dar de caras com, pelo menos, sete. E o mulherio, a começar pelas actrizes porno, aderiu em força.
No capítulo das tatuagens femininas, interessam-me particularmente as que se encontram apostas na região lombar. São, como quase todas, tatuagens veraneantes. Tatuagens cujo potencial só é devidamente aproveitado em época alta, de calor, onde, sobre a parte de baixo do bikini ou por entre as calças e a t-shirt curta, podem aparecer com todo o seu fulgor. São, também, tatuagens statement. Como que a proclamação por parte de quem as usa de que gosta (não só mas sobretudo) de ser possuída por trás. Os literatos adeptos da mama pequena (e de fotografia a preto e branco) tenderão a ver nas tatoos inscritas no baixo costado das meninas uma homenagem a Man Ray. Porém, se há algo que a estas raparigas pouco ou nada interessa esse algo é, precisamente, o modernismo, o dadaismo e o surrealismo. O que elas querem é alguém que as leve às compras num Fórum (ou na Avenida), à praia da Caparica, e as aborde, acarinhe, agarre e penetre. De preferência, com pouca conversa e por detrás. Faz sentido. No mundo ocidental, a tatuagem é, antes de mais, um elogio ao paganismo. Uma recusa do divino e da moral tradicional cristã. Logo - salto grande, mas lógico - um elogio da libertinagem, dentro da qual se incluem acções como a canzana e a sodomia. As tatuagens no dorso, são, nos anos 00, o renascer possível da revolução sexual. Mais um passo rumo à total a emancipação das mulheres. As quais, agora, em plena luz do dia e de forma expressa mas não ordinária, já podem reclamar aquilo que querem. Aos homens, pelo menos aos atentos, caberá corresponder.
7.8.06
Totoo you
p. by Eduardo
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