13.10.06

David Thomas, o Estúdio, musicas novas e antigas

Philip Marlowe e Jim Thompson; baixo, bateria, guitarras, sintetizadores e theremin; ghost towns and lost highways – como se lê na Wire. O último disco dos Pere Ubu, com o romântico e ficcional título Why I Hate Women, é mais rock clássico que avant gard. David Thomas, fundador, líder, vocalista e essência do grupo, afirma mesmo: (..) that’s why I say that we are mainstream. It’s people like Eminem or Britney Spears who are the weird experimentalists. They are dealing with weird alternative worlds. If you put our view of the human condition alongside Britney Spear’s, one of them is extremely experimental and weird, and it’s Mrs. Spears. Ou seja, que os discos dos Pere Ubu reflectem mais fielmente o que se passa no estúdio, o que é tocado no estúdio, ao contrário de outros (os exemplos dados servem apenas para reforçar a sua afirmação) que são mais feitos pelo próprio estúdio do que por quem lá toca.

Exemplos britneyescos à parte, o Estúdio é hoje, como sempre foi, um enorme artista. Basta lembrar Pet Sounds, o Wall of Sound, as soundscapes de Brian Eno. Por maior que seja o talento do homem, sem o Estúdio, sem a manipulação do som que este possibilita, uma considerável parte da melhor música pop nunca teria existido.

Porque o Estúdio não rejeita épocas, correntes ou lugares. Foi usado sempre, por quase todas e em praticamente todo o lado. A pop negra americana, por exemplo, fartou-se de recorrer ao estúdio para depurar (primeiro) e inventar (depois) muitas das suas músicas (soul, funk, hip-hop). Marvin Gaye, os Temptations (período psicadélico), Steve Wonder, Gill-Scott Heron, George Clinton, De la Soul, tiveram no Estúdio e nas ferramentas que este foi fornecendo, mais do que uma ajuda, um co-autor das suas melhores obras.

Na música pop, o Estúdio é, pois, uma entidade fundamental. Mas ao mesmo tempo neutra. Tanto pode dar origem aos fenómenos grotescos mencionados por David Thomas, como ajudar a criar “weird alternative worlds” onde apetece por demais habitar. É uma questão de escolha. E escolha, graças a Deus, ao capitalismo e à Amazon - não necessariamente por esta ordem -, é o que não falta:

Entre o lixo feito pelo estúdio e as boas obras de Estúdio; entre estas e outras, também superiores, mas em que o estúdio serve apenas de local de gravação; como seja escolher entre os 78 samples de Three Feet High and Rising e os ritmos afunkalhados de Dub Housing; ou entre as orquestrações luxuriantes gravadas no estúdio de Kayne West e o rock cru, agreste, selvagem, ensaiado desde há quase trinta anos pelos Pere Ubu nas arrecadações e garagens de Clevland, Ohio, USA.