31.12.06

2006 - cinema, televisão, video

Uma História de Violência, porque qualquer Cronenberg - com excepção do pueril e bocejante Existenz - é filme do ano. A Lula e a Baleia, porque consegue, na senda de Wes Anderson, fazer dos anos 80 uma estética com estética. Nip/Tuck III, porque é a única série possível que mete bloco operatório. E mais: porque consegue conciliar várias leituras e vários géneros, numa mistura de Mondo Cane - o documentário grotesco dos anos 60 em que se mostram as maiores bizarrias, taras e perversões - com Começar de Novo, uma série para donas de casa sobre "o divórcio no mundo contemporâneo". Episódios como aquele em que uma velha de 150 quilos fica colada a um sofá de onde não se levanta há anos, ou um outro onde a dupla Troy/McNamara descobre um feto morto esquecido no útero de uma mulher há mais de uma décadade, são especialmente recomendáveis. Lost, porque a ilha é cozy, tem comida e bebida em abundância, um abrigo com discos vinil dos Steely Dan, um místico chamado John Locke, uma selvagem chamada Rousseau, e ainda ninguém os encontrou. Miami Vice, porque Michael Mann é um "autor", e os autores ficam sempre bem nestas listas de fim de ano. The Departed, porque, tirando o final demasiado clever, é Scorsese vintage, com personagens densas, tiros à queima roupa e sovas de meia noite. De resto, fartei-me de comprar DVDs que não vi de filmes que já conheço, sobretudo "clássicos" - Peckinpah, John Sturges, Arthur Penn, Richard Fleicher -, gostei muito de Old Boy (Chan-woo Park) e muitissímo de Days of Being Wild ( Wong Kar-Wai).