27.12.06

Raging Bull

James é Brown é conhecido como o avô da soul, mas o epíteto peca por redutor. James Brown foi mais que isso. Foi, é - e continuará a ser enquanto uma guerra nuclear não varrer os seus discos da Terra - o responsável por grande parte da música pop dançável dos últimos e dos próximos trinta anos. Nasceu na Carolina do Sul, ao que se sabe na Primavera de 1933, quando o algodão começava a crescer. Já em Atlanta, juntou-se aos Starlighters para cantar gospel; mudou-se depois para o Rythm n Blues e, com Night Train, inspirou alguns dos grupos jamaicanos que viriam a ficar para a posteridade, como os Skatalites ou os Melodians. Mais tarde, em 1968, gravou Live at the Apollo, uma das quatro ou cinco obras-primas absolutas da soul; inventou o funk no dia em que compôs Get Up I Feel Like Being a Sex Machine; e emprestou os ritmos e a voz para centenas de samples de quatro gerações de hip-hoppers. James Brown foi também um trabalhador infatigável. Disciplinado e disciplinador. A sua música, a partir de dada altura, é espelho dessa disciplina: ritmos persistentes, linhas de baixo rigorosas, palavras, verbos e gemidos repetidos até quase à exuastão. Foi por aí que, em Detroit, nos anos 90, nasceu a tecno - uma tentativa de tocar James Brown em computadores baratos. Não será exagero dizer-se que James Brown deu o kick off e influenciou de modo decisivo inúmeros géneros e subgéneros da música pop. A sua música tanto está no disco sound do Studio 54 e do Gallery, como na Madchester dos Primal Scream de Screamadelica, como nos Club Classics dos Soul II Soul, como no apartamento de Chelas de Sam the Kid.

James Brown é ainda o exemplo do sonho americano. O negro que nasce sem nada e, à custa do esforço e do trabalho, sobe até ao topo do mundo. De I'm black, I'm proud até Living in America, com drogas, miúdas pancada e prisões, pelo meio. Qual touro enraivecido.