31.12.06

Happy Endings

Well, imagine it's a film & you're the star & pretty
Soon we're coming to the part where you realise that you should give your heart
Oh give your heart to me.
Now the orchestra begins to make a sound
That goes round & round & round & round & round & round & round & round & round again
And we kiss to violins.
Well some sad people might believe in that I guess
but we know better don't we?
We know all about the mess.
The aftermath of our affair is lying all around and I can't clear it away.
No. And d'you think that it's so easy to find?
Somebody who is just your kind?
Well it might take you a little time but I'm going to have to try.
Oh yeah I'm gonna try.
And I know no-one can ever know which way to head
But don't you remember that you once said that you liked happy endings?
And no-one can ever know if it's going to work
But if you try then you might get your happy ending.

Jarvis the Cocker

Tiago Galvão apanhado em flagrante enquanto fazia uma pausa na autobiografia da Mena Mónica



Parabéns para para ti também.

2006 - cinema, televisão, video

Uma História de Violência, porque qualquer Cronenberg - com excepção do pueril e bocejante Existenz - é filme do ano. A Lula e a Baleia, porque consegue, na senda de Wes Anderson, fazer dos anos 80 uma estética com estética. Nip/Tuck III, porque é a única série possível que mete bloco operatório. E mais: porque consegue conciliar várias leituras e vários géneros, numa mistura de Mondo Cane - o documentário grotesco dos anos 60 em que se mostram as maiores bizarrias, taras e perversões - com Começar de Novo, uma série para donas de casa sobre "o divórcio no mundo contemporâneo". Episódios como aquele em que uma velha de 150 quilos fica colada a um sofá de onde não se levanta há anos, ou um outro onde a dupla Troy/McNamara descobre um feto morto esquecido no útero de uma mulher há mais de uma décadade, são especialmente recomendáveis. Lost, porque a ilha é cozy, tem comida e bebida em abundância, um abrigo com discos vinil dos Steely Dan, um místico chamado John Locke, uma selvagem chamada Rousseau, e ainda ninguém os encontrou. Miami Vice, porque Michael Mann é um "autor", e os autores ficam sempre bem nestas listas de fim de ano. The Departed, porque, tirando o final demasiado clever, é Scorsese vintage, com personagens densas, tiros à queima roupa e sovas de meia noite. De resto, fartei-me de comprar DVDs que não vi de filmes que já conheço, sobretudo "clássicos" - Peckinpah, John Sturges, Arthur Penn, Richard Fleicher -, gostei muito de Old Boy (Chan-woo Park) e muitissímo de Days of Being Wild ( Wong Kar-Wai).

28.12.06

Músicas 2006 (III) the rest of the best



Yellow House (Grizly Bear); A Tom Moulton Mix (Tom Moulton et al); The Letting Go (Bonnie Prince Billy); The Sun Awakens (Six Organs of Admittance); Islands (Koop); It's A Feedelity Affair (Lindstrøm), com a fabulosa homenagem a Giorgio Moroder I Feel Space; Conference of the Birds (Om); Tokyo solo e CCB trio (Keith Jarrett); Neil Young & Crazy Horse no Fillmore East e Neil Young & friends em Heart of Gold, de Jonathan Demme, um filme que põe a chorar o mais selvagem entre mil; a compilação dos trinta anos da Rough Trade, um labour of love para quem ainda gosta de lojas de discos.

27.12.06

Raging Bull

James é Brown é conhecido como o avô da soul, mas o epíteto peca por redutor. James Brown foi mais que isso. Foi, é - e continuará a ser enquanto uma guerra nuclear não varrer os seus discos da Terra - o responsável por grande parte da música pop dançável dos últimos e dos próximos trinta anos. Nasceu na Carolina do Sul, ao que se sabe na Primavera de 1933, quando o algodão começava a crescer. Já em Atlanta, juntou-se aos Starlighters para cantar gospel; mudou-se depois para o Rythm n Blues e, com Night Train, inspirou alguns dos grupos jamaicanos que viriam a ficar para a posteridade, como os Skatalites ou os Melodians. Mais tarde, em 1968, gravou Live at the Apollo, uma das quatro ou cinco obras-primas absolutas da soul; inventou o funk no dia em que compôs Get Up I Feel Like Being a Sex Machine; e emprestou os ritmos e a voz para centenas de samples de quatro gerações de hip-hoppers. James Brown foi também um trabalhador infatigável. Disciplinado e disciplinador. A sua música, a partir de dada altura, é espelho dessa disciplina: ritmos persistentes, linhas de baixo rigorosas, palavras, verbos e gemidos repetidos até quase à exuastão. Foi por aí que, em Detroit, nos anos 90, nasceu a tecno - uma tentativa de tocar James Brown em computadores baratos. Não será exagero dizer-se que James Brown deu o kick off e influenciou de modo decisivo inúmeros géneros e subgéneros da música pop. A sua música tanto está no disco sound do Studio 54 e do Gallery, como na Madchester dos Primal Scream de Screamadelica, como nos Club Classics dos Soul II Soul, como no apartamento de Chelas de Sam the Kid.

James Brown é ainda o exemplo do sonho americano. O negro que nasce sem nada e, à custa do esforço e do trabalho, sobe até ao topo do mundo. De I'm black, I'm proud até Living in America, com drogas, miúdas pancada e prisões, pelo meio. Qual touro enraivecido.

26.12.06

The Godfather's gone but he's not forgotten


James Brown, 1933-2006.

22.12.06

In the Mood para o Natal

Este é um daqueles dias perfeitos. Frio seco. Muito Sol. A malta a querer despachar os presentes e as comidas para o Natal. Já ninguém tem cabeça para trabalhar, nem para pedir trabalho, nem para chatear os que deviam ter feito o trabalho que deixaram por fazer. É véspera de fim-de-semana grande. Há festas e jantaradas programadas. Há ressacas para passar em casa a olhar para a lareira ou para o aquecimento central. De repente, apetece estar com todas as pessoas com quem não foi possível estar, ler todos os livros que não foi possível ler, ver todos os filmes, dormir todas as sestas. Há, pois, que aproveitar. O Natal não é quando um homem quer. E - foda das fodas - o calendário da depressão começa já daqui a dez dias.

In the Mood for Otis

In the Mood for Junior Boys

Mais discos 2006

Conscious Of My Conscience, de Womack & Womack, nos discos de Henrik Schwarz e Rui Murka, com vantagem para este último onde aparece em sequência perfeita com Chicago de Roy Ayers; Pop Dell'Arte POPlastik; coisas antigas e coisas inéditas dos Tortoise, na caixa A Lazarus Taxon; Joanna Newsom com Ys e ouvidelas mais atentas de The Milk-Eyed Mender; a versão de I Shall be Released de Marion Williams, na colectânea Soul Gospel dos pop snobs da Soul Jazz; a discografia quase completa dos Grandaddy, um grupo absurdamente subvalorizado, melhor que Mercury Rev e tão bom como os Flaming Lipps de Soft Bulletin; reedições de My Life in the Bush of Ghosts e Metal Box; Made in Sheffield, quanto mais não seja por Being Boiled dos Human League; It's too late, de Chuck Willis/Otis Redding, em Gone de Kanye West - o disco do ano passado mais ouvido neste; So This is Goodbye, Junior Boys; Crazy Price (Messer Chups), o série Z do ano; Nurse with Wound, a midnight music do ano;

19.12.06

Lost highways



Two-Lane Blacktop, de Monte Hellman, é um dos clássicos de culto mais procurados em DVD. Só para dar uma ideia, nos usados da amazon está a $154. A história resume-se em três palavras: estrada, estrada, estrada. Ou seja, ausência de história e, praticamente, ausência de diálogos. Two-Lane Blackdrop é um Easy Rider para pessoas com bom gosto. Enquanto o filme de Dennis Hopper (de 1969) rapidamente se tornou datado, cabotino e maçador, o de Monte Hellman (de 71) conserva a vivacidade dos filmes que inauguram (mesmo sem inaugurar) um género. O road movie puro é Two-Lane Blackdrop. Sem mensagens subliminares e sem apologias de coisa nenhuma, nem sequer da vida on the road. Apenas a contemplação silenciosa da paisagem à passagem dos quilómetros. Muitos anos mais tarde, Vincent Gallo fez Brown Bunny. Goste-se ou não - e aqui ambas as teses são defensáveis - uma coisa é certa: dificilmente o teria feito se não tivesse visto um dia Tow-Lane Blackdrop.

15.12.06

Blogs 2006

A Causa foi Modificada, do obtusamente bom Armando Madeira. A dose diária de Cavaco (Voz). A persistência do Ricardo Gross em falar de David Sylvians, Harold Budds e Brian Enos, quando a malta quer é saber do último dos Strokes. Os almoços, jantaradas e festanças da Atlântico e do 31 da Armada. Os arquivos do Homem a Dias.

14.12.06

Livros 2006 (I)

Hay-on-Wye em contra relógio. Encontrar uma primeira edição inglesa de At the Mountains of Madness (Lovecraft), e não hesitar comprá-la. O Deserto dos Tártaros (Buzatti). Break, Blow, Burn (Camille Paglia). A introdução de Harold Bloom para a edição dos 150 anos de Leaves of Grass. Rod Liddle e Paul Johnson na Spectator.

12.12.06

Isso nunca acontece

Gosto de Samuel Fuller por imensas razões: os grandes planos, o individualismo, a fisicalidade das personagens, o modo como transporta para o lado de cá do ecrã sensações como frio, calor ou falta de ar, fazendo com que o espectador sinta frio, calor ou falta de ar. E depois gosto dos seus mandamentos, como este sobre os filmes de guerra: "Nunca deixar um G.I. morrer com a fotografia da namorada na mão. Isso nunca acontece"

Músicas 2006 (I)

November Rain (Guns n Roses), num taxi entre Chelsea e Washington Square. Buda Machine. Space (Rafael Toral). I Thought (Brian Ferry/Brian Eno), à saída de Vila Real de Santo António em direcção a Sevilha, a melhor música de sempre deste ano. We Shall Overcome (Springsteen). Kosmischer Pitch (Jan Jelinek) ...

8.12.06



(Bem lembrado pelo Nuno)

Esta imagem é do melhor filme sobre o assunto - Tora!Tora!Tora!, Richard Fleicher/Kinji Fukasaku, 1970 - e deu um trabalhão a conseguir.

7.12.06

6.12.06

Sketch do Paulo Bento (parte dois)

A mesma coisa mas substituindo "tranquilidade" por "intranquilidade".

5.12.06

Sácha barão côa

O que mais me chateia em Borat, é ainda não ter ouvido um portuense com sotaque cerrado a dizer quem é o actor.
- Oube lá, quem é aquele que faz de Borat?

4.12.06

Os Yo La Tengo têm ...

Os Yo La Tengo têm jeito para antecipar as ondas. Nos últimos anos, amoleceram e começaram a gravar discos para bares em fim de Verão, o que - esclareça-se - não é necessariamente mau. Mas também não é especialmente entusiasmante. E, sobretudo, não é certamente único. O que não falta por aí são Nouvelles Vagues e afins para ouvir como música de fundo enquanto se tenta dormir a sesta.

Aquilo em que os Yo La Tengo são mesmo bons – aquilo em que são a melhor banda subvalorizada do mundo - é a fazer barulho. O bom barulho do rock n roll. Aquele que começa por soar dissonante, e ao fim de uns minutos - depois de feita a separação mental entre linha de baixo, batida nos pratos e riff de guitarra -, acaba a soar como música celestial. Da boa - melhor que Mozart, melhor que Bach.

Graças a Deus, em concerto, os Yo La Tengo tocam mais alto que easy listning. Têm a densidade dos Velvet, a energia dos Stooges e a fluidez dos Beach Boys. São a genuína banda coast to coast. Em algumas músicas, Georgia Hubley dá ares de Nico. Noutras, Ira Kaplan manobra a guitarra com a destreza de um Joe Satriani bêbado de Red Bull. E em quase todas, James McNew é aquele gajo grande e gordo, hiper-cool, que dedilha a corda do baixo com o grau de delicadeza recomendável a quem faz um fingerjob, pela primeira vez, à amiga da irmã mais velha.

Aqueles que não foram vê-los ao vivo perderam uma óptima oportunidade para elevarem a alma. Enfim, como em tudo, é uma questão de prioridades.