18.3.07

Old, weird America (revisited)

Harry Everett Smith nasceu no dia 29 de Maio, em Portland, Oregon, na região do continente americano também conhecida por Pacific Northwest. Nasceu numa família pobre mas civilizada. A mãe, que dava aulas numa reserva índia, julgava-se uma Czarina russa e cantava canções irlandesas. O pai trabalhava para uma companhia de conservas e cantava cowboy songs. Pai e mãe viviam em casas separadas e encontravam-se apenas à hora do jantar. Ao longo da vida, Harry Smith fez um pouco de muita coisa: estudou antropologia em Seattle; ajudou a construir bombardeiros, durante a guerra, na Boeing; apresentou um programa de rádio em Berkley; fumou erva; pintou murais em São Francisco, ao som de Dizzy Gillespie, e quadros em Nova Iorque, com uma bolsa do Guggenheim; foi grande amigo de Allen Ginsberg; realizou filmes, escreveu poemas, estudou a Cabala e conviveu com modernistas e expressionistas do Lower East Side; viveu no Chelsea Hotel; morreu no Chelsea Hotel. E, desde o dia em que ganhou o seu primeiro dinheiro até ao último da sua vida, coleccionou milhares e milhares de discos, sobretudo 78 rotações, de todos os géneros da música popular americana, a partir dos quais ergueu aquela que é a sua obra para a posteridade.

A Anthology of American Folk Music, editada pela primeira vez em 1952, é muito provavelmente a mais importante e influente compilação de canções de toda a música popular. São seis discos (mais tarde passaram a oito) com um total de 84 (112) temas, gravados entre 1926 e 1932, e divididos em três capítulos - Ballads, Social Music, Songs - que retratam inúmeros géneros da música popular americana, do cajun ao ragtime, do honky tonk ao bluegrass, do hillbilly aos espirituais. É a fonoteca de Babel da música pop. A verdadeira "old, weird America" de que falava Greill Marcus. Que subsiste, por via dos pais que ouviam os avós que ouviam os bisavós, na música de todos aqueles que por ela se deixaram encantar, dos Dylans aos Becks aos Sringsteens, Caves, Grindermen e companhia.

Acaba agora de sair The Harry Smith Project: The Anthology Of American Folk Music Revisited, uma homenagem a Harry Smith pensada e organizada por Hal Willner, um produtor especializado em tributos, com música do baú smithiano tocada e cantada por gente como Elvis Costello, Wilco, Sonic Youth, Beth Orton, David Thomas, Richard Thompson ou Van Dyke Parks. Nem de perto nem de longe ao nível da matéria prima de que se alimenta. Mas, ainda assim, um óptimo disco. Para fans da Old, Weird América. Ou da América, simplesmente.