28.5.07

Não recordamos dias, recordamos momentos. Por isso - e para além disso -, tentamos fixar instantes, não só para lembrar mais tarde, mas como forma de consciencializar o presente. Uma espécie de cogito ergo sum instantâneo. Ou já uma nostalgia do que ainda está a acontecer. Sucede, por vezes, em alturas de grande euforia, quando se está alcoolizado e se pára para fazer xixi: isto é agora; eu sou eu; eu estou aqui; eu estou feliz.

Paul Bowles, logo no início das suas memórias, tem esta passagem notável:

"Eu estava sentado no baloiço, sob um dos áceres gigantescos, envolto pelos cheiros e sons de uma tarde estival do Massachusetts. Deixei-me cair para trás, pendurado de cabeça para baixo, quase a rasar a relva, e assim fiquei. Nessa altura, um relógio dentro da casa deu as quatro horas. Tudo recomeçou. Eu sou eu, o momento é agora, e estou aqui. O baloiço moveu-se um pouco, deixando-me ver as profundezas verdes de folhas de ácer e, mais acima, o céu incrivelmente azul."