12.6.07

Côte D’Azur - notas culturais

Casino: só vou a casinos a milhares - vá lá, centenas - de quilómetros de casa. A máquina de que mais gosto é simples e rara. Só tem três combinações ganhadoras: três “Bar”, três “melancias” ou três “setes”; todas as outras dão zero. É também a única máquina que conheço onde se pode jogar de uma forma quase racional. Como na banca francesa, é possível dentro da aleatoriedade encontrar tendências e constantes. Por exemplo, se sair uma combinação ganhadora depois de um período em que não saiu nada, é provavel que nas dez jogadas seguintes essa combinação saia mais uma, duas ou três vezes (é o chamado “chorrilho”). Também é importante deixar a máquina descansar. As pausas de cinco a dez minutos tornam-na mais generosa. Por isso, ganha-se eficácia ao jogar em duas ou mais ao mesmo tempo. É, ainda, uma máquina com que se pode ter um diálogo mental. Já estou com saudades.

Carne: em França, sê carnívoro. Na Provença, sê carnívoro sanguinário. Fois gras, bife tártaro ou, na pior das hipóteses, extremamente mal passado.

La Croisette: um passeio de excêntricos estéticos. Nós, por cá, há anos que nos ficamos pelos blazers do André Gonçalves Pereira.

Jogo: num casino, uma velhota sente-se mal e estatela-se no chão. Durante uns segundos, as pessoas que estão à sua volta páram de jogar e olham-na. Só uma sai do lugar para ver o que se passa. Pouco depois, garantida que está a ajuda, todas as outras viram a cara e voltam ao jogo. No chão, enquanto não chegam os médicos, a velha expele golfadas de sangue. Não se ouve nada a não ser o barulho das moedas a bater no tabuleiro das slot-machines.

Praia: Taormina, as ilhas gregas, Ibiza - as margens norte do Mediterrâneo são uma montra de orgulho e prepotência sexual. A Côte D’Azur não é excepção. Há uma saudável falta de vergonha e uma alegria em olhar e ser olhado. Para o bem e para o mal, as nossas praias têm mais areia e muito mais pudor.

Hotéis: a velha Europa é também a Europa dos grandes hotéis históricos: do Carlton ao Martinez ao Negresco ao Maeterlinck ao Hermitage. Hotéis belle époque, estilo art deco, onde se passam filmes do Hitchcock, e que inspiraram outros hotéis art deco – como o Copacabana Palace – onde se passam outros filmes do Hitchcock.

Mar: Azul-turquesa, mas com boas livrarias por perto.

Mónaco: demasiado dinheiro e carros bons para tão pouco espaço.

Noite: Tender is the Night tem passagens em Cap d’Antibes. Mas, na Europa do Sul, as mulheres há muito deixaram de ser passivas. Andam de mãos dadas. Vestem-se para despir. Tomam a iniciativa. Marcam o território.

Noite (2): Cars & girls, como na música dos Prefab Sprout.