9.8.07

Barcelona

Passei três dias em Barcelona e reparei que a cidade está mais 'cosmopolita' do que nunca. Aos Gaudis e malabaristas juntam-se agora, a cada esquina, em cada passeio, os casais gay, as bicicletas, os estudantes americanos e as lojas e lounges com adereços cor-de-laranja. Por causa dos americanos, lembrei-me várias vezes do Barcelona, de Whit Stillman, que vi há uns meses e de que não gostei mesmo nada. O viciante refrão de Young Folks ocorreu-me frenquenetmente, talvez por, na minha cabeça, esta música ser dos I’m from Barcelona (que na realidade não são de Barcelona) e não, como de facto é, de Peter Bjorn And John. No meio disto, devido à proximidade das intercalares de Lisboa, passei demasiado tempo em maçadoras comparações de “cariz urbanístico”, com Barcelona, em regra, a levar a melhor. As imagens e sons, os tiques de raciocínio e reflexos pavlovianos em que me emaranhei, fizeram desta Barcelona um lugar mental algo cansativo. Cosmopolitanismo pós-qualquer coisa, jovem e bem disposto, de braços abertos para a festa. Acresce que, como faço em todas as cidades para onde viajo fora de Portugal, fartei-me de andar a pé. Só que, por motivos nobres como só os familiares hoje em dia são, tive que encurtar para menos de metade a largura da minha passada habitual. Ao cansaço cerebral somou-se o físico. Barcelona, nesta altura do ano, com trinta e muitos graus, apenas se justificou por motivos logísticos – foi porto de partida e chegada de um barco por onde andei. Mas, passada uma semana e dissipados estes factores em boa medida pessoais e intransmissíveis, olho para esta viagem com a sensação idêntica à daqueles sonhos em que voamos sobre a copa das árvores. A ideia com que fico é que tanto fez ter sido Barcelona como outro sítio qualquer, esta Barcelona adolescente, dos Stillman ou Bjorns, ou a monumental, ou a medieval, de pedra gótica e ruas estreitas, ou a espanhola, dos cartazes desbotados nas esplanadas das Ramblas a anunciar paelhas com péssimo aspecto, ou a radical e moderna de Mies Van der Rohe. Foram três grandes dias. Barcelona não foi mais que o pano de fundo onde o que fica se passou.