21.6.07

Reviver o passado em Brideshead, de Evelyn Waugh, está arrumado no escaparate gay e lésbico da Fnac. Digamos que é uma espécie de "Plano Nacional de Leitura" meets "Formação contra a homofobia" em versão off-arraial.

Depois de Gershwin, Ellington, Sinatra, Garfunkle, Lou Reed

O Martin Parr que há em mim




Nice (mas não de nice), Junho de 2007, domingo.

20.6.07

No início de Little Big Man, de Arthur Penn, paira uma das mais neilyoungescas e adoráveis ideias do Cinema. Um velho muito velho diz para o homem que o está a entrevistar "Turn that thing on!" ("that thing" é um gravador de fitas), e depois, ao mesmo tempo que a imagem passa para as grandes planícies do Missouri, começa: "one hundred eleven years ago, when I was ten years old, my family was wiped out by a bunch of indians...". One hundred eleven years ago, when I was ten ... O homem tinha cento e vinte e um anos.

17.6.07

Às tantas, no imperdível programa dos Quase Famosos (ouvir aqui), o Nuno Costa Santos lança a pergunta ao Pedro Adão e Silva: qual é o Neil Young que preferes?
É uma das perguntas mais difíceis que conheço. Eu gosto de todos os Neil Young do mundo - do baladeiro, do rockeiro, do para cantar a volta da fogueira e do eléctrico, com ou sem Crazy Horse, do rural e do citadino, do político e do romântico, e até daqueles discos embaraçantes da década de 80, como Re-a-ctor, Landing on Water ou Life. Mas, a ter que escolher um - um só - escolheria, talvez, Rust Never Sleeps. Porque sintetiza bem toda a carreira de Neil Young (começa acústico e a solo e segue com os Crazy Horse), porque tem a melhor canção jamais escrita sobre o declínio de uma geração (Thrasher), porque alcança, em duas versões, o zenite do rock 'n' roll (My my, hey ... hey, my my), e porque é lá que se encontram os quinze segundos iniciais de música que mais vezes por dia me vêm à cabeça. Estes:

16.6.07

Três não obscuros objectos do desejo trazidos de Cannes: o histórico 50 ans de Cinéma Américain, de Jean-Pierre Coursodon e Bertrand Taverier; Le Cinéma américain des années 70, de Jean-Baptiste Thoret; e o documentário Midnight Movies - from the margin to the mainstream, realizado por Stuart Samuels.
O primeiro - que já conhecia bem na sua versão 30 ans de ... - confirma a competência dos franceses a escrever sobre cinema clássico americano. O documentário deixa-se ver mas não dispensa a leitura do livro homónimo, de Jim Hoberman e Jonathan Rosenbaum, a partir do qual foi adaptado. Agora, o livro de Jean-Baptiste Thoret tem sido uma belíssima surpresa. Contava lê-lo de forma salteada e a verdade é que, desde que lhe peguei, ainda não consegui pousá-lo. É certo que o meu interesse pelo cinema dos anos 70 tem crescido - com uma mão a tapar a cara, admito que já faltou mais para encomendar a obra completa do Hal Ashby - mas este livro, para além do tema, para além da fluência da escrita, é brilhante na forma como entra nos filmes dos movie brats e companhia, relacionando temáticas, realçando marcas estéticas, confrontando as linhas mestras do cinema da década de setenta com as do cinema do pós-guerra, e dando um retrato bem mais substancial do que o de Easy Riders, Raging Bulls: How the Sex, Drugs and Rock 'N' Roll Generation Saved Hollywood, de Peter Biskind.

14.6.07

O que é feito de Pamela Anderson?




Fotografias de Marilyn Minter para o último número da Pakett.


Meu amigo, o segredo - que não é segredo nenhum - é jantar tarde, chegar muito tarde, e não deixar nunca, mas mesmo nunca, que o chinês ou a velha matreira que espreitam pelas nossas costas deitem as mãos à máquina* onde jogamos. Para isso, convém, sempre que se vai buscar guardanapos, bloqueá-la pondo as chaves na ranhura das moedas.

(* A máquina de que falo não é uma fruit-machine qualquer. Não tem cerejas, nem cifrões, nem laranjas, nem ferraduras, nem double bar, mas apenas "bares", "melancias" e "setes". O mínimo que se ganha com uma combinação ganhadora é vinte vezes o que se apostou ("single bar" nas três colunas, jogando com uma só moeda). E é por as probabilidades de dar dinheiro serem bastante mais altas que já são poucos os casinos onde esta máquina existe)

12.6.07

Em Cannes

Direita dura

e direita mole (numa edição melhor).

Côte D’Azur - notas culturais

Casino: só vou a casinos a milhares - vá lá, centenas - de quilómetros de casa. A máquina de que mais gosto é simples e rara. Só tem três combinações ganhadoras: três “Bar”, três “melancias” ou três “setes”; todas as outras dão zero. É também a única máquina que conheço onde se pode jogar de uma forma quase racional. Como na banca francesa, é possível dentro da aleatoriedade encontrar tendências e constantes. Por exemplo, se sair uma combinação ganhadora depois de um período em que não saiu nada, é provavel que nas dez jogadas seguintes essa combinação saia mais uma, duas ou três vezes (é o chamado “chorrilho”). Também é importante deixar a máquina descansar. As pausas de cinco a dez minutos tornam-na mais generosa. Por isso, ganha-se eficácia ao jogar em duas ou mais ao mesmo tempo. É, ainda, uma máquina com que se pode ter um diálogo mental. Já estou com saudades.

Carne: em França, sê carnívoro. Na Provença, sê carnívoro sanguinário. Fois gras, bife tártaro ou, na pior das hipóteses, extremamente mal passado.

La Croisette: um passeio de excêntricos estéticos. Nós, por cá, há anos que nos ficamos pelos blazers do André Gonçalves Pereira.

Jogo: num casino, uma velhota sente-se mal e estatela-se no chão. Durante uns segundos, as pessoas que estão à sua volta páram de jogar e olham-na. Só uma sai do lugar para ver o que se passa. Pouco depois, garantida que está a ajuda, todas as outras viram a cara e voltam ao jogo. No chão, enquanto não chegam os médicos, a velha expele golfadas de sangue. Não se ouve nada a não ser o barulho das moedas a bater no tabuleiro das slot-machines.

Praia: Taormina, as ilhas gregas, Ibiza - as margens norte do Mediterrâneo são uma montra de orgulho e prepotência sexual. A Côte D’Azur não é excepção. Há uma saudável falta de vergonha e uma alegria em olhar e ser olhado. Para o bem e para o mal, as nossas praias têm mais areia e muito mais pudor.

Hotéis: a velha Europa é também a Europa dos grandes hotéis históricos: do Carlton ao Martinez ao Negresco ao Maeterlinck ao Hermitage. Hotéis belle époque, estilo art deco, onde se passam filmes do Hitchcock, e que inspiraram outros hotéis art deco – como o Copacabana Palace – onde se passam outros filmes do Hitchcock.

Mar: Azul-turquesa, mas com boas livrarias por perto.

Mónaco: demasiado dinheiro e carros bons para tão pouco espaço.

Noite: Tender is the Night tem passagens em Cap d’Antibes. Mas, na Europa do Sul, as mulheres há muito deixaram de ser passivas. Andam de mãos dadas. Vestem-se para despir. Tomam a iniciativa. Marcam o território.

Noite (2): Cars & girls, como na música dos Prefab Sprout.

5.6.07

Penso num dia bem programado e penso em Mishima. Segundo reza a história (ou será a lenda?), na madrugada do dia 25 de Novembro de 1970, acabou de escrever O Mar da Fertilidade e, nessa manhã, enviou a prova para o editor. À tarde, suicidou-se.