7.10.07
Já no outro jogo, nada de novo a assinalar
p. by Eduardo
6.10.07
p. by Eduardo
5.10.07
Being Hiroshi Sugimoto
p. by Eduardo
3.10.07
o monólogo de Aguirre
I am the great traitor. There must be no other. Anyone who even thinks about deserting this mission will be cut up into 198 pieces. Those pieces will be stamped on until what is left can be used only to paint walls. Whoever takes one grain of corn or one drop of water... more than his ration, will be locked up for 155 years. If I, Aguirre, want the birds to drop dead from the trees... then the birds will drop dead from the trees. I am the wrath of god. The earth I pass will see me and tremble. But whoever follows me and the river, will win untold riches.
Claro que isto em alemão tem muito mais pinta.
p. by Eduardo
30.9.07
Rio sem regresso
Segundo reza a História, Ian Curtis ter-se-á suicidado depois de rever Stroszek, do mesmo Herzog. Aguirre não dá para isso. Klaus Kinski é um explorador exemplar. Com o seu ar alucinado, longe do Actors Studio, busca a imortalidade. Para ele, a morte só é admissível após cumprir a missão. E uma vez cumprida a missão não haverá morte capaz de o matar. Aguirre é um totalitário e um louco porque não admite recuos racionais perante a lucidez da (sua) vontade. Se, em 18 de Maio de 1980, Ian Curtis tivesse visto Aguirre, mesmo sem El Dorado à vista, em vez de suicidar-se teria eliminado, um a um, todos os seus companheiros dos Joy Division.
p. by Eduardo
Wire über alles
p. by Eduardo
20.9.07
A contra-revolução que veio de dentro
p. by Eduardo
17.9.07
16.9.07
Os chabals também se abatem (II)
p. by Eduardo
10.9.07
Dos fracos
p. by Eduardo
Choque ideológico
p. by Eduardo
O povo livre contra o "capitalista colectivo"
p. by Eduardo
21.8.07
Produtos naturais
O progressivo aumento da esperança média de vida (e da qualidade dessa vida) é uma vitória da química sobre a natureza no seu estado natural.
p. by Eduardo
9.8.07
Sensibilidade 6.ª coluna
p. by Eduardo
Barcelona
p. by Eduardo
7.8.07
7.7.07
4.7.07
Escravos das galés
p. by Eduardo
p. by Eduardo
Um pouco de equidade
p. by Eduardo
21.6.07
20.6.07
No início de Little Big Man, de Arthur Penn, paira uma das mais neilyoungescas e adoráveis ideias do Cinema. Um velho muito velho diz para o homem que o está a entrevistar "Turn that thing on!" ("that thing" é um gravador de fitas), e depois, ao mesmo tempo que a imagem passa para as grandes planícies do Missouri, começa: "one hundred eleven years ago, when I was ten years old, my family was wiped out by a bunch of indians...". One hundred eleven years ago, when I was ten ... O homem tinha cento e vinte e um anos.
p. by Eduardo
17.6.07
Às tantas, no imperdível programa dos Quase Famosos (ouvir aqui), o Nuno Costa Santos lança a pergunta ao Pedro Adão e Silva: qual é o Neil Young que preferes?
É uma das perguntas mais difíceis que conheço. Eu gosto de todos os Neil Young do mundo - do baladeiro, do rockeiro, do para cantar a volta da fogueira e do eléctrico, com ou sem Crazy Horse, do rural e do citadino, do político e do romântico, e até daqueles discos embaraçantes da década de 80, como Re-a-ctor, Landing on Water ou Life. Mas, a ter que escolher um - um só - escolheria, talvez, Rust Never Sleeps. Porque sintetiza bem toda a carreira de Neil Young (começa acústico e a solo e segue com os Crazy Horse), porque tem a melhor canção jamais escrita sobre o declínio de uma geração (Thrasher), porque alcança, em duas versões, o zenite do rock 'n' roll (My my, hey ... hey, my my), e porque é lá que se encontram os quinze segundos iniciais de música que mais vezes por dia me vêm à cabeça. Estes:
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16.6.07
O primeiro - que já conhecia bem na sua versão 30 ans de ... - confirma a competência dos franceses a escrever sobre cinema clássico americano. O documentário deixa-se ver mas não dispensa a leitura do livro homónimo, de Jim Hoberman e Jonathan Rosenbaum, a partir do qual foi adaptado. Agora, o livro de Jean-Baptiste Thoret tem sido uma belíssima surpresa. Contava lê-lo de forma salteada e a verdade é que, desde que lhe peguei, ainda não consegui pousá-lo. É certo que o meu interesse pelo cinema dos anos 70 tem crescido - com uma mão a tapar a cara, admito que já faltou mais para encomendar a obra completa do Hal Ashby - mas este livro, para além do tema, para além da fluência da escrita, é brilhante na forma como entra nos filmes dos movie brats e companhia, relacionando temáticas, realçando marcas estéticas, confrontando as linhas mestras do cinema da década de setenta com as do cinema do pós-guerra, e dando um retrato bem mais substancial do que o de Easy Riders, Raging Bulls: How the Sex, Drugs and Rock 'N' Roll Generation Saved Hollywood, de Peter Biskind.
p. by Eduardo
14.6.07
O que é feito de Pamela Anderson?
Fotografias de Marilyn Minter para o último número da Pakett.
p. by Eduardo
Meu amigo, o segredo - que não é segredo nenhum - é jantar tarde, chegar muito tarde, e não deixar nunca, mas mesmo nunca, que o chinês ou a velha matreira que espreitam pelas nossas costas deitem as mãos à máquina* onde jogamos. Para isso, convém, sempre que se vai buscar guardanapos, bloqueá-la pondo as chaves na ranhura das moedas.
(* A máquina de que falo não é uma fruit-machine qualquer. Não tem cerejas, nem cifrões, nem laranjas, nem ferraduras, nem double bar, mas apenas "bares", "melancias" e "setes". O mínimo que se ganha com uma combinação ganhadora é vinte vezes o que se apostou ("single bar" nas três colunas, jogando com uma só moeda). E é por as probabilidades de dar dinheiro serem bastante mais altas que já são poucos os casinos onde esta máquina existe)
p. by Eduardo
12.6.07
Côte D’Azur - notas culturais
Carne: em França, sê carnívoro. Na Provença, sê carnívoro sanguinário. Fois gras, bife tártaro ou, na pior das hipóteses, extremamente mal passado.
La Croisette: um passeio de excêntricos estéticos. Nós, por cá, há anos que nos ficamos pelos blazers do André Gonçalves Pereira.
Jogo: num casino, uma velhota sente-se mal e estatela-se no chão. Durante uns segundos, as pessoas que estão à sua volta páram de jogar e olham-na. Só uma sai do lugar para ver o que se passa. Pouco depois, garantida que está a ajuda, todas as outras viram a cara e voltam ao jogo. No chão, enquanto não chegam os médicos, a velha expele golfadas de sangue. Não se ouve nada a não ser o barulho das moedas a bater no tabuleiro das slot-machines.
Praia: Taormina, as ilhas gregas, Ibiza - as margens norte do Mediterrâneo são uma montra de orgulho e prepotência sexual. A Côte D’Azur não é excepção. Há uma saudável falta de vergonha e uma alegria em olhar e ser olhado. Para o bem e para o mal, as nossas praias têm mais areia e muito mais pudor.
Hotéis: a velha Europa é também a Europa dos grandes hotéis históricos: do Carlton ao Martinez ao Negresco ao Maeterlinck ao Hermitage. Hotéis belle époque, estilo art deco, onde se passam filmes do Hitchcock, e que inspiraram outros hotéis art deco – como o Copacabana Palace – onde se passam outros filmes do Hitchcock.
Mar: Azul-turquesa, mas com boas livrarias por perto.
Mónaco: demasiado dinheiro e carros bons para tão pouco espaço.
Noite: Tender is the Night tem passagens em Cap d’Antibes. Mas, na Europa do Sul, as mulheres há muito deixaram de ser passivas. Andam de mãos dadas. Vestem-se para despir. Tomam a iniciativa. Marcam o território.
Noite (2): Cars & girls, como na música dos Prefab Sprout.
p. by Eduardo
5.6.07
31.5.07
p. by Eduardo
28.5.07
Paul Bowles, logo no início das suas memórias, tem esta passagem notável:
"Eu estava sentado no baloiço, sob um dos áceres gigantescos, envolto pelos cheiros e sons de uma tarde estival do Massachusetts. Deixei-me cair para trás, pendurado de cabeça para baixo, quase a rasar a relva, e assim fiquei. Nessa altura, um relógio dentro da casa deu as quatro horas. Tudo recomeçou. Eu sou eu, o momento é agora, e estou aqui. O baloiço moveu-se um pouco, deixando-me ver as profundezas verdes de folhas de ácer e, mais acima, o céu incrivelmente azul."
p. by Eduardo
24.5.07
19.5.07
18.5.07
A propósito da série "infidelidade" do Vasco Barreto, da infidelidade propriamente dita e dos casamentos à la carte, lembro-me do que costuma dizer um amigo: em Espanha ou no meio do Alentejo, especialmente em programas tauromáquicos, não conta. É a chamada cláusula de exclusão taurino-territorial.
p. by Eduardo
16.5.07
11.5.07
10.5.07
8.5.07
Zona sul
O mundo começou com um Fla-Flu mas pode bem acabar com um Botafogo-Flamengo. Eu estava lá, neste domingo, e vi o que é devoção clubista. Um formigão de quilómetros a caminho do Maracanã, autocarros sitiados com os vidros partidos, polícia militar de metralhadora em riste. O homem que guiava o carro onde ia, gritou: "isto é uma selvajaria, ainda nem começou a partida e já estourou a guerra!". Só que no Rio é difícil falar em selvajaria. O ar que se respira é demasiado relaxado para coisas dessas. Estava calor e um céu azul. Não longe da "guerra", no calçadão, milhares em tronco nu. Esplanadas à pinha em Ipanema. Uma regata na Baia de Guanabara. O Flamengo acabou por ganhar nos penâltis. O mundo não acabou. Mas, se acabasse, seria um belíssimo fim.
p. by Eduardo
27.4.07
Frisco prefer blondes (me too)
Vertigo, Basic Instinct, Kim Novak e Sharon Stone. Mas eu conheço uma que a estas junta a Kathleen Turner de Body Heat. É a melhor loira de todos os tempos.
p. by Eduardo
24.4.07
Primeiro mandamento: adorar a Deus sobre todas as coisas
O Pedro Adão elogia bem os Animal Collective (provavelmente, o melhor grupo de agora), mas comete sacrilégio quando usa a expressão "sobrevalorizados" para se referir a Smile e a Pet Sounds. Smile e Pet Sounds, Pet Sounds e Smile, só Smile ou só Pet Sounds, apenas um quarto de qualquer um destes, a mera ideia ou a fugaz audição de um acorde dos oitenta e seis minutos e vinte e quatro segundos que são o tempo total dos dois somados, as letras P (for Pet Sounds) ou S (for Smile), um pintelho do Brian Wilson, tudo ou qualquer coisa que tenha a ver com os dois nunca sobejamente referidos discos é perfeito. Tão perfeito que chega a fazer-nos duvidar da perfeição.
p. by Eduardo
Carl Solomon! I'm with you in Rockland
where you're madder than I am
I'm with you in Rockland
where you must feel very strange
I'm with you in Rockland
where you imitate the shade of my mother
I'm with you in Rockland
where you've murdered your twelve secretaries
I'm with you in Rockland
where you laugh at this invisible humor
I'm with you in Rockland
where we are great writers on the same dreadful
typewriter
I'm with you in Rockland
where your condition has become serious and
is reported on the radio
I'm with you in Rockland
where the faculties of the skull no longer admit
the worms of the senses
I'm with you in Rockland
where you drink the tea of the breasts of the
spinsters of Utica
I'm with you in Rockland
where you pun on the bodies of your nurses the
harpies of the Bronx
I'm with you in Rockland
where you scream in a straightjacket that you're
losing the game of the actual pingpong of the
abyss
I'm with you in Rockland
where you bang on the catatonic piano the soul
is innocent and immortal it should never die
ungodly in an armed madhouse
I'm with you in Rockland
where fifty more shocks will never return your
soul to its body again from its pilgrimage to a
cross in the void
I'm with you in Rockland
where you accuse your doctors of insanity and
plot the Hebrew socialist revolution against the
fascist national Golgotha
I'm with you in Rockland
where you will split the heavens of Long Island
and resurrect your living human Jesus from the
superhuman tomb
I'm with you in Rockland
where there are twenty-five-thousand mad com-
rades all together singing the final stanzas of the Internationale
I'm with you in Rockland
where we hug and kiss the United States under
our bedsheets the United States that coughs all
night and won't let us sleep
I'm with you in Rockland
where we wake up electrified out of the coma
by our own souls' airplanes roaring over the
roof they've come to drop angelic bombs the
hospital illuminates itself imaginary walls col-
lapse O skinny legions run outside O starry
spangled shock of mercy the eternal war is
here O victory forget your underwear we're
free
I'm with you in Rockland
in my dreams you walk dripping from a sea-
journey on the highway across America in tears
to the door of my cottage in the Western night
p. by Eduardo
Still this Howling thing
Quarenta e dois anos depois de Ginsberg, vinte e um depois de Christopher Buckley e Paul Slansky na New Republic, é a vez de Alexandre Soares Silva.
p. by Eduardo
22.4.07
19.4.07
18.4.07
Virginia — The West
Explicar massacres como o da Virgínia partindo do pressuposto de que o homem é bom e é a danada da sociedade que o perverte, é ignorância que já nem à Dra. Maria Barroso se desculpa. A História tem dado algumas provas de que o homem não é assim tão bom como isso e, apesar de tudo, as sociedades evoluidas ainda vão sendo aquelas onde a margem para a violência é menor. Seja pela força da lei, seja pelo estímulo do bem-estar, o homem social é em regra menos perigoso que o homem animal; e o homem social, numa sociedade como a americana, é seguramente mais afável que o homem social de uma sociedade primitiva. Tirando isso, parece claro que num lugar onde não existissem armas de fogo ninguém mataria trinta e tal pessoas com uma arma de fogo. Tal e qual como, num lugar onde não existissem pessoas, ninguém mataria pessoas .
p. by Eduardo
17.4.07
15.4.07
Badlands
O western é de todos os géneros cinematográficos aquele que melhor serve para especular sobre os comportamentos humanos. Numa terra sem lei, ou à procura dela, o homem sente-se livre para agir segundo os seus instintos. Instintos que vão desde a simples sobrevivência até outros mais sofisticados, como a generosidade ou a maldade ou a vingança. Os westerns clássicos (Ford, Hawks, Huston) acentuavam os bons sentimentos, os bons instintos, a integridade ético-moral do herói que num ambiente propício à corrupção acabava por escolher o lado bom, ainda que para tal tivesse que usar a violência e o mal. Os fins - e as circunstâncias hostis - acabavam por jutificar os meios. A violência do western é uma violência com sentido. Nessa medida, é uma violência respeitável. Sam Peckinpah foi mais longe e tratou-a não só com respeito mas com sentido estético. A violência, porque sustentada num código de valores, passou a ser glorificada. Ética e plasticamente glorificada.
Tudo isto para chegar a The Proposition (2005), um western passado no Outback australiano, em finais do século XIX, escrito pelo grinderman Nick Cave e realizado por John Hillcoat. O filme começa, à boa maneira de Peckinpah, com um tiroteio infernal, na sequência do qual o xerife inglês, Morris Stanley, captura dois dos três irmãos envolvidos no brutal assassinio de uma mulher grávida. Em vez de os enforcar como manda a lei, resolve fazer-lhes uma proposta: um fica detido e o outro é solto com a obrigação de trazer, vivo ou morto, o terceiro irmão, verdadeiro responsável material pelo crime. Se cumprir, os dois são libertados; se não, o irmão preso é executado, nove dias depois. É Natal. Stanley Morris quer civilizar a Austrália. Acha que é mais importante punir o responsável do que matar apenas para dar o exemplo. A sua mulher, Martha, serve chás no deserto em serviço de porcelana inglesa. Mas a Austrália não está para ser civilizada e a comunidade reaje à iniciativa de Morris, hostilizando-o. O filme é fabuloso. A planície australiana, com os seus "grandes espaços", a fazer a vez de Monument Valley. Um aterrador John Hurt, a representar como se se tratasse de Shakespeare. Milhares e milhares de moscas a pousar em tudo o que existe. Poeira e lama. A cabeça de um aborígena pelos ares. O canto do nómada e a canção do carrasco. Uma terra selvagem, povoada por selvagens, que agem selvaticamente por instintos. De vingança, de sadismo, se sobrevivência e de mimetismo. No meio disso, um homem que tenta racionalizar o seu instinto de justiça. E no fim, como também já não se usa, um final trágico. Trágico e aberto, para mais tarde especular.
p. by Eduardo
12.4.07
Ainda a propósito de psicanálise e do PS
Há que não confundir Jacques Lacan com Jorge Lacão.
p. by Eduardo
11.4.07
Do divan ao Correio da Manhã
Um dos pesadelos recorrentes de quem frequentou a universidade é constatar, a meio do sono, que ainda não acabou o curso. Que há cadeiras por terminar, ou - basta - que falta passar a uma cadeira. Que o exame é amanhã e que já não há tempo para estudar. Que, estando prestes a fazer algo para cuja prática o curso é requisito, somos descobertos. Apanhados, como naquele outro pesadelo em que se é apanhado nu a atravessar a rua. É um sonho universal. Jung, Freud, Perls, todos os grandes psicanalistas o estudaram. Alguns atribuem este pesadelo a um trauma com longos dias e longas noites de estudo. Outros, ao horror com que algumas pessoas ficaram da sua passagem pela Universidade. Outros ainda ao receio de assumir responsabilidades. Ou à aproximação de um teste na nossa vida. Há até aqueles (Wilhelm Stekel) que explicam este sonho com base no - tch, tch, tch, tchan - sexo. Independentemente das várias interpretações, num ponto estão todos de acordo: pesadelos como este só acontecem a quem concluiu o curso. Que a actualidade seja rasa e maçadora é uma inevitabilidade que se aceita. Agora que caricature um dos mais fascinantes clássicos do onirismo é que já começa a ser pouco simpático..
p. by Eduardo
6.4.07
Todos
Às tantas, no excelente Le Cercle Rouge, de Jean Pierre Melville, há o seguinte diálogo entre o ministro do Interior e um comissário da polícia: Não se esqueça, todos os homens são culpados. Mesmo os polícias? Todos. E não, a conversa não era sobre criminalidade.
p. by Eduardo
5.4.07
31.3.07
Cygnet Committee*
(* Do meu tempo. De um tempo que já não foi o meu. De um tempo que, aliás, nunca existiu)
p. by Eduardo
30.3.07
Based on a true story
Era um vez um homem tão calculista, tão calculista, que passou pela vida sem cometer qualquer erro. No fim, constatou que também não havia tomado qualquer posição. Era uma vez um homem tão cobarde, tão cobarde que passou pela vida sem tomar qualquer posição. No fim, ...
p. by Eduardo
Uma cerveja no Inferno
Em Le Salaire de la Peur (1953), de Henri-Georges Clouzot, quatro homens são encarregues de transportar dois camiões carregados de nitroglicerina através dos caminhos acidentados de um qualquer país da América do Sul. Fazem-no por dinheiro ou porque não se importam de morrer. Depois de um prólogo de quase uma hora em que se sucedem as cenas de antologia, começa a viagem: quatro homens, dois camiões e uma carga mortal ao primeiro percalço. E depois chegam os vícios e virtudes humanas. Todas as misérias e grandezas. Todos os rasgos e acanhamentos. Só que Clouzot filma a coragem e a cobardia com a mesma distância apática. A generosidade e a vileza como se de características neutras se tratassem. Neste filme, o confronto entre o bem e o mal morais não é resolvido pelo cinema. É o espectador, com a sua particular ordem de valores, na comodidade ética do seu sofá que acaba por desempatar. Na altura em que o filme saiu, houve quem o qualificasse de antiamericano e anticapitalista (é ao serviço de uma companhia petrolífera americana que estes homens, em condições impiedosas, arriscam a vida). Mas não se trata de nada disso. O filme é - como é também The Treasure of Sierra Madre, de John Huston - um cruel tratado sobre a natureza humana. Não é antiamericano nem anti coisa nenhuma. É o que somos. Ou tudo aquilo que podemos escolher ser.
p. by Eduardo
29.3.07
Levado pela estimulante epígrafe da Wire ao artigo sobre o novo Nick Cave, voltei a ouvir No Pussyfooting (1973), de Robert Fripp e Brian Eno, e posso garantir três coisas: 1) já não se fazem duplas assim; 2) sob a guitarra eléctrica, a praia; 3) a monotonia é um prazer fetichista.
p. by Eduardo
27.3.07
Pessimismo
Identifica-se (e bem) a direita com o pessimismo antropológico. A desconfiança em relação à natureza humana e o descrédito numa suposta bondade inata. Mas isso não significa que o direitista seja um ser resignado. O pessimismo antropológico não é uma ideia determinista, mas sim um ponto de partida para tudo o resto. Curiosamente, é Gramsci, comunista e antifascista, quem melhor define o meu pessimismo: pessimista pela inteligência, optimista pela vontade. Pessimista na razão, optimista na acção.
p. by Eduardo
As boas ideias
Não há nada pior para as boas ideias do que serem defendidas por um filho da puta.
p. by Eduardo
23.3.07
The snob cheat sheet for confusing similarities
World on String/Word on a Wing/Wild is the Wind
p. by Eduardo
18.3.07
Old, weird America (revisited)
Harry Everett Smith nasceu no dia 29 de Maio, em Portland, Oregon, na região do continente americano também conhecida por Pacific Northwest. Nasceu numa família pobre mas civilizada. A mãe, que dava aulas numa reserva índia, julgava-se uma Czarina russa e cantava canções irlandesas. O pai trabalhava para uma companhia de conservas e cantava cowboy songs. Pai e mãe viviam em casas separadas e encontravam-se apenas à hora do jantar. Ao longo da vida, Harry Smith fez um pouco de muita coisa: estudou antropologia em Seattle; ajudou a construir bombardeiros, durante a guerra, na Boeing; apresentou um programa de rádio em Berkley; fumou erva; pintou murais em São Francisco, ao som de Dizzy Gillespie, e quadros em Nova Iorque, com uma bolsa do Guggenheim; foi grande amigo de Allen Ginsberg; realizou filmes, escreveu poemas, estudou a Cabala e conviveu com modernistas e expressionistas do Lower East Side; viveu no Chelsea Hotel; morreu no Chelsea Hotel. E, desde o dia em que ganhou o seu primeiro dinheiro até ao último da sua vida, coleccionou milhares e milhares de discos, sobretudo 78 rotações, de todos os géneros da música popular americana, a partir dos quais ergueu aquela que é a sua obra para a posteridade.
A Anthology of American Folk Music, editada pela primeira vez em 1952, é muito provavelmente a mais importante e influente compilação de canções de toda a música popular. São seis discos (mais tarde passaram a oito) com um total de 84 (112) temas, gravados entre 1926 e 1932, e divididos em três capítulos - Ballads, Social Music, Songs - que retratam inúmeros géneros da música popular americana, do cajun ao ragtime, do honky tonk ao bluegrass, do hillbilly aos espirituais. É a fonoteca de Babel da música pop. A verdadeira "old, weird America" de que falava Greill Marcus. Que subsiste, por via dos pais que ouviam os avós que ouviam os bisavós, na música de todos aqueles que por ela se deixaram encantar, dos Dylans aos Becks aos Sringsteens, Caves, Grindermen e companhia.
Acaba agora de sair The Harry Smith Project: The Anthology Of American Folk Music Revisited, uma homenagem a Harry Smith pensada e organizada por Hal Willner, um produtor especializado em tributos, com música do baú smithiano tocada e cantada por gente como Elvis Costello, Wilco, Sonic Youth, Beth Orton, David Thomas, Richard Thompson ou Van Dyke Parks. Nem de perto nem de longe ao nível da matéria prima de que se alimenta. Mas, ainda assim, um óptimo disco. Para fans da Old, Weird América. Ou da América, simplesmente.
p. by Eduardo
13.3.07
Um bom epitáfio é meio caminho para uma grande vida
Malcolm Lowry
Late of the Bowery
His prose was flowery
And often glowery
He lived, nightly, and drank, daily
And died playing the ukelele.
p. by Eduardo
12.3.07
11.3.07
Seis nações (4.ª jornada)
Ainda há esperança. Para isto e para o que de facto interessa.
p. by Eduardo
9.3.07
De esquerda
Pois, eu também prefiro mulheres de esquerda. Mas só para programas de esquerda.
p. by Eduardo
a whole climate of opinion
Uma das expressões inglesas de que mais gosto é "climate of opinion". Significa qualquer coisa como o ambiente intelectual ou público-opinativo de uma determinada época ou momento histórico - para exemplificar, pode dizer-se que, nos anos sessenta, o climate of opinion era bastante libertário. Mas onde a expressão adquire o seu sentido mais espantoso, é num poema de W. H. Auden, sobre Freud, que passo a citar: (...) for one who'd lived among enemies so long:/ if often he was wrong and, at times, absurd,/ to us he is no more a person/ now but a whole climate of opinion (...)
p. by Eduardo
História trágico-marítima
'A woman has ten claws,'
Sang the drunken boatswain;
Farther than Betelgeuse
More brilliant than Orion
Or the planets Venus and Mars,
The star flames on the ocean;
'A woman has ten claws,'
Sang the drunken boatswain.
(Above 80º N.
)Philip Larkin, 1944
p. by Eduardo
4.3.07
My own private Babel
Paris, Nova Iorque, anos 70. Pelas ruas circulam judeus, nazis, manifestantes antipoluição, um esquerdista voluntarioso que quer escrever uma tese sobre McCarthy e correr a maratona, e uma "suíça", gira, que acaba na cama com ele. Outra vez Paris, anos 50. Quatro prisioneiros recebem um novo companheiro de cela e ponderam contar-lhe o plano que têm para fugir da prisão. Tóquio (ou outra qualquer cidade no Japão). 1999. Um homem de cinquenta anos, viúvo, pretende voltar a casar. Com a ajuda de um amigo, simula um casting a fim de conhecer mulheres das quais escolherá uma para ser sua. Três pontos de partida para três filmes de géneros bem diferentes: thriller político, filme prisão e filme vingança com toques de fantástico e gore. John Schlesinger, Jacques Becker e Takashi Miike. Marathon Man, Le Trou e Audition.
O thriller político feito na américa de finais dos anos 60/70, por cineastas liberais, como John Schlesinger, Alan J. Pakula (All the President's Men, The Parallax View), Sydney Pollack (The Three Days of the Condor), Fred Zinneman (The Day of the Jackal) ou John Frankenheimer (The Manchurian Candidate, Seven Days in May). Filmes para adultos, plot com pés e cabeça, heroísmo minimal, moral seca, interpretações contidas - longe, muito longe, do tantas vezes cansativo método stanislavsky.
O cinema realista francês off-nouvelle vague, de que Le Trou é paradigma (Jean-Pierre Melville é outro autor muito cá de casa), com cuidado no detalhe, quer físico quer psicológico, ausência de música (de fundo ou outra), ritmo só aparentemente lento da acção. Le Trou é daqueles filmes que nos conquista sem percebermos bem como. Pouco tempo depois de começar, somos possuídos pela sensação de estar dentro daquela cela, com aqueles homens, a escavar o buraco e o túnel que os levará (?) à liberdade. É um filme que se vê de dentro da acção. Daí a sua intensidade dramática. Nós não conhecemos os prisioneiros; nós somos os prisioneiros. E é por isso que queremos que tudo (nos) corra bem.
Do Japão, de Taiwan, da Coreia, de Hong Kong, vem muito do que de melhor se faz hoje em cinema. A infantilização e a correcção política, por um lado, e o pedantismo arthouse por outro, ainda não chegaram ao extremo oriente cinéfilo. Ou, pelo menos, não são exportados de lá para cá. Audition é um filme que me faz lembrar Philip K. Dick. Premissas perfeitamente admissíveis, para situar quem segue a história numa realidade que lhe é de algum modo familiar: um homem mais velho quer voltar a casar, nada mais natural. Esse homem forja um esquema para conhecer mulheres, nada mais natural. Um homem conhece uma mulher, é a história de sempre a repetir-se. E daí partimos para um outro mundo (ou não), para um pesadelo (ou não), onde permanece o homem normal, com vícios e aspirações normais, mas agora imerso num cenário de terror e sadismo quase inumano; quase, porque a mulher, ao que se sabe, ainda é humana. Ao pé daquilo que Eihi Shiina faz a Ryo Ishibashi, os dentes arrancados por Sir Laurence Olivier a Dustin Hoffman não passam de um beijo na boca. É grande a dúvida sobre o universo onde entretanto se passa a situar o filme. São dadas pistas em sentidos divergentes: pode ser um sonho, pode ser realidade; pode ser um sonho dentro de um outro sonho. No fim, fica a incerteza e a perplexidade. O que é bom - pois o cinema é também para gozar depois da sessão.
p. by Eduardo
3.3.07
2.3.07
Morricone B e Z (II)
Um western spaguetti ou um melodrama erótico, um policial manhoso ou um giallo, um Lucio Fulci ou um Samuel Fuller, quase todos de baixíssimo orçamento, tanto fazia, pouco interessava. Durante anos, Enio Morricone foi aceitando todo o trabalho que lhe era proposto, ao ponto de ser hoje autor de quatrocentos e tal bandas sonoras para filmes dos mais variados géneros e sub-géneros cinematográficos. Variedade a que responde, na sua sua música, com uma não menor diversidade de sons - os sons de que é feito o som Morricone: guitarras distorcidas e música concreta, percurssões africanas e gemidos ofegantes, arabismos psicadélicos e ritmos afunkalhados, bop e pop, cordas e coros, Miles Davis e Gil Evans, crime e dissonância. São dezenas e dezenas de discos. Este, compilado por Mike Patton e recomendado por John Zorn, é apenas um pequena amostra. Quem quiser ir por aí afora tem muito onde gastar e bastante com que se entreter.
p. by Eduardo
28.2.07
Morricone B e Z
Il federale, I marziani hanno 12 mani, Duello nel Texas, I maniaci, The Bible, Agente 077: Missione Bloody Mary, The Thing, Sai cosa faceva Stalin alle donne?, Sette pistole per i Mac Gregor, Navajo Joe, L'harem, La sindrome di Stendhal, Danger: Diabolik, Galileo, Comandamenti per un Gangster, Two Mules for Sister Sara, Il gatto a nove code, Bluebeard, I racconti di Canterbury, Dalle Ardenne all'inferno, Holocaust 2000, Gli amanti d'oltretomba, Der Richter und sein Henker, Indagine su un cittadino al di sopra di ogni sospetto, Bloodline, Le professionnel, White Dog, Quando le donne avevano la coda, Red Sonja ...
p. by Eduardo
27.2.07
Fim de semana alucinante nas ilhas Britânicas (apesar de O'Toole)
Consagração da Rainha, do último rei da Escócia, e sova (43-13) da Irlanda à Inglaterra, no torneio das seis nações. Dylan Thomas manteve-se morto.
p. by Eduardo
26.2.07
Já não há qualquer tipo de respeito
Obrigam este senhor a sair do conforto da sua casa, a passar mais de dez horas preso num avião, a ficar quase cinco sentado e longe de um bar, a ouvir a prédica de Al Gore (onde está Lee Oswald quando precisamos dele), a expor a sua perfeição em adiantado estado de dissolvência, a observar com olhos transparentes a boçalidade de uma Céline Dion, e no fim não lhe dão a porra do Óscar, uma ovação de pé, um “obrigado” por tudo o que fez.
p. by Eduardo
24.2.07
23.2.07
Quem procura sempre encontra
Stereolab/Nurse With Wound, Crumb Duck
Clawfist, 1993
£ __, Intoxica, 231 Portobello Road, London, W11
Nurse With Wound, Drunk With The Old Man Of The Mountains
United Dairies, 1987
£ __, Rough Trade, 130 Talbot Road, London, W11 1JA
Moondog, Moondog and his Honking Geese
Moondog Records, 1955
£ __, Rough Trade, 130 Talbot Road, London, W11 1JA
p. by Eduardo
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