31.5.07

Zodiac. É o facto de ser maçador que o torna tão bom. Porque é longo, circunstanciado e meticuloso, o filme consegue passar para o espectador aquilo que as personagens vão sentindo: da curiosidade ao desconforto ao cansaço à angústia ao desespero. E é isso que é o cinema. Numa palavra - como disse Samuel Fuller - emotions.

Whitman XXL. Do tamanho da obra.

28.5.07

Não recordamos dias, recordamos momentos. Por isso - e para além disso -, tentamos fixar instantes, não só para lembrar mais tarde, mas como forma de consciencializar o presente. Uma espécie de cogito ergo sum instantâneo. Ou já uma nostalgia do que ainda está a acontecer. Sucede, por vezes, em alturas de grande euforia, quando se está alcoolizado e se pára para fazer xixi: isto é agora; eu sou eu; eu estou aqui; eu estou feliz.

Paul Bowles, logo no início das suas memórias, tem esta passagem notável:

"Eu estava sentado no baloiço, sob um dos áceres gigantescos, envolto pelos cheiros e sons de uma tarde estival do Massachusetts. Deixei-me cair para trás, pendurado de cabeça para baixo, quase a rasar a relva, e assim fiquei. Nessa altura, um relógio dentro da casa deu as quatro horas. Tudo recomeçou. Eu sou eu, o momento é agora, e estou aqui. O baloiço moveu-se um pouco, deixando-me ver as profundezas verdes de folhas de ácer e, mais acima, o céu incrivelmente azul."

Passo os anos inteiros à espera que o Sporting ganhe qualquer coisa. Mas, no fim do dia, a imagem que fica é a de um grupo de excursionistas da Sertã, estendidos na mata do Jamor, a prepararem-se para assar um porco inteiro meia hora antes do começo do jogo.

24.5.07


Este ofereço eu.

19.5.07

No seu primeiro disco a solo - o brilhante Woke on a Whaleheart - Bill Callahan, em passo country digno do Johnny Cash de Folsom Prison, canta: "a man needs a woman or a man to be a man". Tempos modernos, é o que é.

18.5.07

A propósito da série "infidelidade" do Vasco Barreto, da infidelidade propriamente dita e dos casamentos à la carte, lembro-me do que costuma dizer um amigo: em Espanha ou no meio do Alentejo, especialmente em programas tauromáquicos, não conta. É a chamada cláusula de exclusão taurino-territorial.

Quando ouço falar em grandes orgasmos, penso logo naquele livro do Milo Manara, vagamente inspirado em Jonathan Swift, em que uma mulher gigante passa os dias a masturbar-se numa terra de anões.

16.5.07

A internet pornográfica está a precisar do seu Martin Luther King branco.

Qualificar-se um político como uma pessoa estimável, ponto, equivale a dizer-se de uma mulher que é uma pessoa simpática. Quando não se quer ser desagradável e nada mais há para dizer.

11.5.07

23° Sul/ 44° Oeste


E era meia noite e quarenta e três, hora local

8.5.07

Zona sul

O mundo começou com um Fla-Flu mas pode bem acabar com um Botafogo-Flamengo. Eu estava lá, neste domingo, e vi o que é devoção clubista. Um formigão de quilómetros a caminho do Maracanã, autocarros sitiados com os vidros partidos, polícia militar de metralhadora em riste. O homem que guiava o carro onde ia, gritou: "isto é uma selvajaria, ainda nem começou a partida e já estourou a guerra!". Só que no Rio é difícil falar em selvajaria. O ar que se respira é demasiado relaxado para coisas dessas. Estava calor e um céu azul. Não longe da "guerra", no calçadão, milhares em tronco nu. Esplanadas à pinha em Ipanema. Uma regata na Baia de Guanabara. O Flamengo acabou por ganhar nos penâltis. O mundo não acabou. Mas, se acabasse, seria um belíssimo fim.