11.1.07

Olhem para os Crumb, olhem para os Crumb

No documentário Crumb, de Terry Zwigoff, sobre a vida e obra do desenhador Robert Crumb – impulsionador do underground comics movement, criador de Keep on Trukin’ e Fritz the Cat, coleccionador compulsivo de 78 rotações (outro reaças musical), amigo de Harvey Pekar, entre muitas outras coisas – impressionaram-me, particularmente, os seus irmãos: Charles e Maxon Crumb.

Ambos tão talentosos como Robert. Mas um e outro com aspecto, trejeitos e hábitos de um bicho. Charles (de cinquenta e poucos anos) surge em casa da mãe, afogado em psicotrópicos, num quarto de onde pouco sai, com um pijama que raramente despe, longe do banho que nunca toma. Maxon (quarentas), por seu lado, vive num fétido hotel em São Francisco, onde passa horas sentado sobre uma cama de pregos, a babar-se e a meditar. Com o tempo, as próprias caras embruteceram, aproximando-se do mongolismo. Razão para a miséria humana: os traumas sexuais que ambos sofreram durante infância e adolescência. A indiferença, o desdém ou o asco que suscitaram nas meninas que conheceram. O filme é de 1994. No mesmo ano, Charles suicidou-se (consta que ainda virgem). Max é um solitário que mendiga nas ruas e atormenta chinesas no metropolitano. Quando vejo os nossos self deprecated sexuais tenho vontade de rir. Olhem para os Crumb. Olhem para os manos Crumb. E dêem graças pelo sucesso que têm.