21.1.07

Sobre barbas e a perda da inocência


Al Pacino em Serpico e Springsteen circa Born to Run


Serpico, de Sidney Lumet (1973), com Prince of the City (do mesmo Lumet), é o meu filme preferido sobre corrupção na polícia. Pacino, neste papel sem o overacting que tantas vezes estraga as suas interpretações, é um idealista que quer mudar os maus hábitos instalados na polícia. À medida que o filme avança, a sua pilosidade facial cresce. Primeiro o bigode, depois o cabelo, finalmente a barba. Quando todas estas peças se juntam e quase por completo lhe cobrem a cara, Serpico é um homem a abater na esquadra onde trabalha. A realização é Anos 70 vintage. Moral seca em vez de moralismo. Nova Iorque - Giulianni ainda não mandava - cheia de crime, de lixo nas ruas, de criminosos negros e polícias curruptos. Final pouco feliz. Serpico muda qualquer coisa, mas não consegue mudar o mundo. Dois anos depois, em New Jersey, é a vez de um outro Serpico alimentar pela última vez as suas ilusões juvenis. Também tem barba, bigode e cabeleira farta. Assina com o nome de Bruce Springsteen.

Born to Run, conta o documentário que acompanha a edicção comemorativa dos seus 30 anos, demorou dezoito meses a pôr de pé. Springsteen quis controlar todos os acordes, todos os solos, todas as notas. Foram gravadas dezenas de takes para cada música. Às tantas, perdido no meio da imensidão de material em bruto, Springsteen chamou Jon Landau, um produtor de Boston, para ajudá-lo a desembaraçar os nós. Tal como Pet Sounds, Born to Run é um disco de estúdio, onde não há lugar para jam sessions ou improvisações. As letras falam sobre a (boa) ideia de partir rumo a uma vida melhor. Mas a corrida não foi longe. Três anos depois, já não há Serpico para ninguém. Já não há barba nem bigode. Darkness on the Edge of Town é o disco que se segue.