28.7.06

Entretanto, na Abruptolândia ...

Reina grande consternação. Pessoas e programas automatizados interrogam-se sobre se a série do Abrupto, encimada pela imagem de um cachorro rosnando, é da autoria do Pacheco Pereira ou do "outro", o terrível "falso abrupto". Por ser tão patética ("Cuidado! Não enviar comentários quando o falso Abrupto aparece!"), todos apostam que é do falsário. Pacheco, o próprio, em barba, carne e osso, jamais seria capaz de tamanha maldade consigo mesmo.

24.7.06

De erro em erro

A situação que agora se vive no Líbano tem algumas semelhanças com a asneira que foi "o Iraque". Aliás, uma e outra, de certa forma, estão ligadas.

Com a queda de Sadam e a consequente instalação da anarquia no Iraque, o Irão ganhou, de um momento para o outro (meses), um peso na região que de outra forma dificilmente alcançaria. Com isto, pôde não só dedicar-se com mais afinco ao programa nuclear, como assumir sozinho e sem se preocupar com o vizinho do lado a dianteira na cruzada contra o ocidente, armando, estimulando e orientando uma série de grupetas, grupos e grupelhos terroristas instalados nos vários países do médio oriente. Dois deles, já se sabe, o Hamas e o Hezbollah.

Perante as recentes incursões e raptos de soldados por estes levadas a cabo nas fronteiras israelitas, Ehud Olmert poderia ter reagido como fizeram os seus imediatos antecessores em semelhantes situações: uns rockets para Gaza, umas bombas para o sul do Líbano, um gajo de cadeira-de-rodas pelo ar, a captura de uns tipos de barba e turbante, uma resposta de baixa intensidade para gerir o conflito em baixa intensidade.

Mas não. Se em Gaza a reacção foi mais ou menos moderada, no Líbano Israel deu vários passos adiante. Ou atrás, se tudo correr como se começa já a adivinhar.

Uma guerra em larga escala tem de ter razões e objectivos precisos. Defender o território de uma ameaça séria e actual à sua integridade; conquistar (a título mais ou menos definitivo) território alheio ou acabar de vez com um inimigo. Tal como no Iraque, parece que nenhuma destas razões se verifica nem nenhum destes objectivos será conseguido.

O território de Israel, por mais que os defensores da causa se esforcem por tentar demonstrar o contrário, não estava a correr perigo sério e actual. Algumas populações vivem sob medo e tensão, seja por causa do terrorismo intermitente, seja por causa da proximidade a fronteiras hostis. Mas o território, a sua integridade, não estavam a ser ameaçados, até porque, neste momento, nenhum país vizinho tem capacidade para entrar em guerra com Israel, nem tão pouco Hamas e Hezbollah têm arte ou engenho para ameaçar de modo sério a sua integridade territorial.

Por outro lado, Israel não quer, nem pode, ocupar o Líbano e aí instalar-se, transformando-o num enorme colunato. A experiência anterior correu mal, e internacionalmente tal situação tornar-se-ia rapidamente insustentável.

Por fim, Israel também não pode dizimar o Hezbollah, pois o Hezbollah, que não é um Estado, está por todo o lado e em lado nenhum. Para acabar com este inimigo, seria necessário arrazar todo o Líbano, e a seguir toda a Síria, e a seguir o Irão, e a seguir quase todo o mundo muçulmano. Uma vez mais, Israel não quer e não pode ir por aí, pois tal implicaria milhões de mortos, milhões de "danos colaterais".

A situação actual, a continuar por mais algum tempo, levará a um resultado semelhante ao do Iraque. Passar-se-á do mau para o péssimo. Em vez de um Estado fraco (hostil, no caso do Iraque), mas ainda assim controlável (e até amigo, no caso do Líbano), passar-se-á para um território em pantanas, onde reinará a anarquia e proliferarão todos os Hezbollahs deste mundo e do outro. Populações à partida pacíficas, tenderão a revoltar-se e a alinhar com a "guerra ao Ocidente". O Irão será cada vez mais o farol e amparo dos muçulmanos em fúria. Os muçulmanos em fúria serão cada vez mais, os muçulmanos de boa vontade cada vez menos. Israel perderá autoridade moral, crédito e confiança perante a famosa "comunidade internacional". A famosa "comunidade internacional" começará a perder a paciência para com Israel. Tal e qual como acontece com os Estados Unidos no pós-Iraque.

E, no fim de mais esta história, chegar-se-á à brilhante conclusão de que mais valia ter ficado quieto. Ter deixado tudo como estava: uma guerra fria, com alguns pontos quentes. Umas vezes mais, outras vezes menos. Porque tal como não havia armas de destruição massiva em Bagdad, também não haverá milagres em Beirute.

23.7.06

A paz II

Liberais e neoconservadores indefectíveis de Israel têm-se desdobrado em argumentos para justificar os bombardeamentos do Líbano. Um dos mais curiosos, passa por dizer que, no fundo, tudo isto será bom para os Libaneses, que no fim, com o país em escombros mas libertos do Hezzbollah, ainda irão agradecer.

Faz-me lembrar uma letra do Gilberto Gil que diz o seguinte:

... Como aquela grande explosão
Uma bomba sobre o Japão
Fez nascer um Japão da paz
...



Só que aí a bomba era atómica.

20.7.06

A paz

Citando Leonard Choen: existe uma guerra. Só que esta não é entre ricos e pobres, mulheres e homens, esquerda e direita, ou, sequer, entre os que dizem que há uma guerra e os que dizem que não há. É entre Israel e um conjunto mais ou menos variado e variável de ONGs, Estados e proto-Estados. Nos últimos dias, a guerra avançou. Muito resumidamente: dois soldados israelitas foram raptados(?!), Israel bombardeou o Líbano e do Líbano responderam, bombardeando Israel. De fora, entidades caducas (ONU e Europa), que teimam em não querer deixar a coisa ir até ao fim, pedem tudo e mais um par de botas: "um cessar fogo imediato", "proporcionalidade na reacção", "troca de prisioneiros", "intervenção humanitaria" e, imagine-se, "a paz". Sucede que "a paz" não lhes faz a vontade. Está fora dali, num outro lugar, num outro país. O País de Gales, onde, por estes dias, apesar do Sol abrasador e de uma ou outra camisola da selecção inglesa, se reuniu toda a paz do mundo. É vê-la nas escarpas sobre o mar; nas praias de areia branca onde não há sentimento de culpa por não ficar; em pacatas cidades costeiras, habitadas por albatrozes, a fazer lembrar O Nevoeiro de John Carpenter; nos vales mais verdes que o de Maureen O'hara; por entre os trilhos (secundarissimos) que rasgam campos de feno. Sol por todo o lado, paz por todo o lado, de Tenby a Strunble Head, de Aberystwyth (impronunciável) a Hay-on-Wye.
O mundo está, como de costume, perigoso. Conquanto haja uma passagem para Gales, deixemo-lo estar.

14.7.06

"Especialistas do PS apoiam modelo de pensões do PSD". Com títulos como este do DN, entrámos, decididamente, na silly season (pronto, tinha que usar a expressão). Nos próximos dias seguir-se-ão outros que tal: "especialistas do CDS apoiam modelo de hospedarias da presidência", "especialistas da Quercus apoiam modelo de acampamento do Bloco", "especialistas da Liga apoiam modelo de casas de putas da Federação" ...

13.7.06

Eu acho

Depois do “eu acho que vamos ser campeões”, do “eu acho que é penalty”, do "eu acho que estão a bascular©", do “eu acho que foi muito bem dada”, do “eu acho que para a próxima é que é”, do “eu acho que fica”, vamos ter o “eu acho que estas temperaturas exigem uma resposta coordenada", o “eu acho que escasseiam os meios aéreos”, o “eu acho que é preciso instruir as forças no terreno sobre o manuseamento dos instrumentos de combate”, o “eu acho que temos que reflectir sobre estes fenómenos ciclicos que assolam o nosso território”, ou então o “eu acho que este ano há mais gente”, o "eu acho que este ano se anda melhor" e o “eu acho que este ano vou para baixo mais tarde”, para já não falar dos sempre constantes “eu acho que são todos os corruptos” ou “eu acho que isto não vai a lado nenhum”. Pois eu cá acho que vai. De “eu acho” em “eu acho” até ao “eu acho” final.

11.7.06

Das cabeçadas de Syd Barrett só as paredes se podem queixar

1946-2006

Pablo Ramirez on Simao Sabrosa

Se o Jorge Perestrelo tivesse graça...

Muitos percursos, vários destinos, com ou sem escala. Mar, montanha, cidade. Weather report, mapa de estradas, simulação de preços, google earth, guias e mais guias. Navegar é preciso, preparar viagens não devia ser.

Da série "major turn off"

Se eu fosse dono de uma agência de viagens, os catálogos nunca teriam fotografias com colchas.

10.7.06

Gostar de cabeçadas

Zidane despede-se em alta. Como um homem. Como um marselhês. E com uma das melhores cabeçadas jamais dadas. Frontal e denunciada. Brutal e limpa. A opção pelo peito de Materazzi deveu-se, certamente, ao especial cuidado estético que Zidane põe no jogo: sujar o campo com sangue e dentes do italiano, foi algo que quis evitar. Também por isso a FIFA fez bem em dar-lhe o prémio de melhor jogador. O futebol não é só desporto. Muito menos bola e mãos na cara.

Mais três cabeçadas de antologia:

Canavarro, na pequena área, recua no ar, puxa a cabeça atrás do tronco, e remata forte e seco; Toni, desde o limite da grande área, voa três metros e põe a bola dentro da baliza; Zidane (outra vez), em pura levitação, a cabeça numa rotação perfeita, para defesa de Buffon.

Viva Zidane
Viva Itália

6.7.06

Cachorro rosnando

É de lamentar que ontem, às oito da noite, enquanto a selecção nacional jogava pela segunda vez em quarenta anos uma meia final do campeonato do mundo de futebol, o canal 1 da televisão pública, como se nada fosse, se entretivesse a dar notícias sobre bombas nucleares na Coreia, sessões da assembleia, tanques na faixa de Gaza, qualquer coisa que alguém do PSD disse, o regresso de Santana Lopes, qualquer coisa que alguém do BE disse, a ETA, qualquer coisa que alguém disse, etc., etc., etc.

Enfim, mas o melhor que esta copa trouxe não teve nada a ver com futebol. Leia-se este diamante em vias de delapidação que nos foi oferecido (de graça) por um ouvinte leitor do fórum TSF Abrupto:

"Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo do desenvolvimento científico!

Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo dos Hábitos de Leitura e nas práticas culturais!

Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo da qualidade de vida das cidades e do ordenamento do território!

Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo do combate às desigualdades sociais e à pobreza!

Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo da qualidade da educação e da nossa saúde!

Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo da qualidade dos nossos dirigentes políticos e da capacidade das nossas elites!

Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo da defesa do nosso património!
"


E que bom que era podermos pegar numa G3 e desatar a disparar sobre cabeças em movimento.

5.7.06















Uma aula de físico-química.

4.7.06

Fuga, por entre a realidade, para a vitória

Em dez jogos contra esta França, Portugal perde oito, empata um e ganha outro. Contra esta França sem o banco que tem (Trezeguet, Wiltord, Govou e Saha), passamos para sete derrotas, dois empates e uma vitória. Com Deco e Costinha impecáveis e Nuno Valente na bancada, seis derrotas, três empates e uma vitória. Com Henry atento ao último defesa, Zidane e Makelele bem dispostos e Ribery vivo, perdemos nove e ganhamos um. Com Zidane coxo, Vieira rouco, Gallas ulcerado, Thuram sem lentes de contacto, Henry com o Le Pen agarrado ao pescoço, e as nossas Senhoras (Caravagio e Fátima) connosco, perdemos seis, empatamos dois e ganhamos os restantes. Ou seja, temos sempre, pelo menos, dez por cento de hipótese de ganhar.

3.7.06

Gostar/não gostar de homens

Every man... every man has to go through hell to reach paradise.

Max Cady em Cape Fear.

1.7.06

Cachorro rosnando


Remodelação no governo com televisões e rádios a dar quase nenhuma atenção ao tema. Quarenta e três minutos até que pela primeira vez seja mencionado. Se um marciano aterrasse neste pobre país (o nosso), era capaz de ficar convencido de que coisas mais interessantes estão a acontecer.