31.3.06

Chelsea. Fora do Hotel

Chelsea. Porta sim, porta não, garagens; porta não, porta sim, galerias. Num quadrado delimitado pelas avenidas 10 e 11 e ruas 21 e 26, cento e tal galerias de arte. Depois de entrar em algumas, a conclusão é esta: nunca pensar que já tudo foi inventado. Há sempre alguém na galeria seguinte capaz de nos surpreender. Raspas de troncos de árvore, escatologia sortida, instalações feitas com três milhões de copos de plástico, buracos no chão (tout court), cães a passear em salas vazias. E depois há coisas muito boas, ao nível dos melhores museus. Em regra, de gente já consagrada. Nan Goldin, Paul McCarthy, Richard Prince, Edward Ruscha, Cindy Sherman, Gerard Richter, David Smith, and so on, and so on ...

30.3.06

No fim, palmas e autógrafo

Depois de Simon Reynolds, eis que o cartaz do dia anuncia uma converseta entre uma senhora cujo nome esqueci, Kim Gordon (Sonic Youth) e Greil Marcus. Sim, Greil Marcus, o autor de Mistery Train e Lipstick Traces, o académico acima de todos os críticos, o grande contextualizador da música pop. Tema para debate: rock e política. Mau tema. A senhora cujo nome esqueci, "moderadora", "feminista" dos cinco costados e trajando um vestidinho às bolas, queria apenas saber o que pensavam os convidados sobre Bush. Kim Gordon, hiper-blasé, limitou-se a repetir vários "you know... you know..." seguidos de outros tantos "I don't know...I don't know". Valeu Marcus. Uma intelegência fora de série. Muito humor. Respostas alternando trivia sobre as grandes estrelas (de Dylan a Britney) com consideracões e observacões sábias sobre a relação entre pop e política.

I took a trip down to L´America

Em França continua tudo à estalada por causa dos "direitos adquiridos". Por cá, discute-se uma lei proposta por Bush para regularizar a situacão dos imigrantes ilegais, a HBO vai estrear uma sitcom sobre uma família poligâmica e Dick Cheney revelou-se o maior stand up comedian do ano num jantar com jornalistas.

Ah, e livros tambem


16 Poèmes Enfantins
e.e. cummings
The Marion Press, New York, 1962
Primeira edição ($20)


The Naked and the Dead
Norman Mailer
Rinehart & Company, New York, 1948
Primeira edição, quinta impressão ($25)

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Oh, silver jews!
Oh, shining rivers of the soul!

Harlem (vintage)

Oh, silver tree!
Oh, shining rivers of the soul!

In a Harlem cabaret
Six long-headed jazzers play.
A dancing girl whose eyes are bold
Lifts high a dress of silken gold.

Oh, singing tree!
Oh, shining rivers of the soul!

Were Eve's eyes
In the first garden
Just a bit too bold?
Was Cleopatra gorgeous
In a gown of gold?

Oh, shining tree!
Oh, silver rivers of the soul!

In a whirling cabaret
Six long-headed jazzers play.

Jazzonia, Langston Hughes

Terra do desperdício (e da eficiência)

Fim da tarde. Lixo, lixo, lixo e mais lixo e mais lixo. Sacos pretos XXL a rodear as portas dos prédios. Na manhã do dia seguinte, já não estão lá.

Rua 53

China Girl. China Grill

E ao quarto dia, MoMA

O Beijo, Edvard Munch

The Marriage of Reason and Squalor, II, Frank Stella

29.3.06

Entretanto, no 5.o andar do Whitney

South Carolina Morning, Edward Hopper

SMS para Lisboa

I have eaten
the plums
that were in
the icebox

and which
you were probably
saving
for breakfast

Forgive me
they were delicious
so sweet
and so cold

This Is Just to Say
William Carlos Williams

AM / PM

11 da manhã. Museu de História Natural. Grande exposição sobre Charles Darwin, com tartarugas gigantes e tudo. Mesmo ao lado de um placard com a síntese da teoria da origem das espécies e da selecção natural, está um outro que explica o que é uma teoria: "Uma teoria é um sistema organizado de ideias que demonstram um conjunto de factos ..."
Os naturalistas darwinistas acreditam na evolução natural da espécie. Os organizadores de exposições, também. Mas, pelo sim pelo nao, sempre vão dando a sua ajuda.


Untitled #33, Robert Longo,1982

7 da tarde. Universidade de NI. Como parte da exposicão "Downtown Show - the New York art scene 1974-1984", Simon Reynolds, autor de Rip it up and start Again, dá uma palestra sobre Pós-punk. Reynolds é das pessoas que mais sabe e melhor escreve sobre música pop. Vê-lo ao vivo, ouvi-lo debater com a intelectualidade da baixa novaiorquina, falar-lhe, foi uma emoção. Entre outras coisas, ficou-se a saber que Lydia Lunch considera os Human League um vomitório; que Brian Eno e Yoko Ono são os avos da No Wave; que os B52 são um casamento entre John Waters e James Brown e que a música rock vive numa permanente tensão entre o desígnio de ser visceral e inculta e a tentação de ser artisticamente reconhecida.

28.3.06

Diggin' na Bleeker Street

Television com Brian Eno. Desconhecia por completo esta gravacão (pirata) de um dos meus gurus com o grupo de Tom Verlaine. O som não deve ser grande coisa, mas este é um daqueles discos que eu compraria mesmo que não tivesse nada gravado.


Chicago de Roy Ayers. Maxi. Só e mais nada uma das minhas músicas preferidas de sempre.

O Haiti tambem é aqui

Junto à porta das Nacoes Unidas. Onde um grupo de 14 haitianos com 14 cartazes e um megafone gritava slogans contra Rene Preval.

America Latina

Bolivia, Peru, Honduras, Uruguai, Chile, Porto Rico, Colombia, Venezuela, Costa Rica, Panama ... e Harlem.

27.3.06

St. Marks Place (vizinhança)

Ainda os cartoons

Este ano, a bienal do Whitney Museum aborda os dois temas que mais entusiamam os americanos: sexo e Bush (nao confundir com bush = pubic hair, ou sexo do bush). Uma instalacao de nome Peace Tower recebe as visitas à* entrada. Uma enorme armacao em forma de piramide, ornamentada com dezenas de trapos onde se podem ler apelos ao 'fim da invasao' e insultos ao presidente. Depois, nos quatro andares ocupados pela exposicao, ha video, fotografia, pintura, escultura e ... cartoons. Cartoons, cartoons e mais cartoons. Ora sobre sexo, ora sobre Bush. Com dizeres pacifistas primarios, metaforas imbecis, associacoes forcadas de imagens. Anti-americanismo como so os jovens artistas americanos sao capazes. Freitas (antes do MNE) e Louca, ao lado destes 'novos criadores', sao dois meninos (bem) educados pelo Bob Hope. Claro que ha tambem algumas obras surpreendentes e positivamente impressionantes. Mas o que aqui mais ordena é* o cartoon. Bera, previsivel, aborrecido, facil, esteticamente debiloide. Por estes dias, em Nova Iorque, a arte contemporanea limita-se a acompanhar a corrente. Enfim, a desilusao foi tal que tive vontade de soltar la dentro trinta e sete maradonas, devidamente munidos com tacos de basebol, e fechar a porta a chave.

* Dicas para quem escreve de uma terra sem acentos. Ir a uma pagina escrita em portugues e fazer copy/paste.

Nova Iorque (de Midtown até ao Lower East Side)

Murray Street (Sonic Youth)
Avenue B (Iggy Pop)
Clinton Street (Leonard Cohen)

25.3.06

Spritzer on ice in new york city

Bye

Eu, por outro lado, recomendo

Vivamente (!) o Tristes Trópicos. É o melhor blog do momento, da (é Mulher, bronco) melhor blogger de variadíssimos momentos. Sei que o apelo é patético, mas peço-vos para não ligarem ao que diz este ser, uma personagem da outra banda que agora escreve na revistas (já entregaste o textículo, está toda a gente à espera da graaaande estreia). Um homem que acha que se come bem na Ribadouro. Um homem que, portanto, tal e qual um dos seus ícones masturbatórios de eleição – o, como faz questão de soletrar, “Senhor (por extenso) Doutor (por extenso) Professor (ainda por extenso) Aníbal (nome próprio) Cavaco e Silva (apelido com um "e" a mais)” - se engana. Um homem que, com estas últimas séries de posts (cheios de graça, a sério) e o ataque ad bloguinem que nelas pratica, corre riscos de se confundir com um cruzamento entre o Pedro George (cabeça), o Victor Hugo Cardinale (tronco e membros) e um dos irmãos Pinto (focinheira). Mas isso pouco importa. Gostamos dele assim. O gajo escreve, a malta ri; a malta ri, o gajo escreve; o gajo apaga, a malta ri; o gajo volta a escrever, a malta volta a rir. Convém é não o levar a sério. Sob pena de um dia acabarmos a elogiar a Ribadouro. Ou em frente a um ecrã de televisão, encimado por um bordado branco, a ver a volta a Portugal em bicicleta. Ou a escrever "posts abertos ao presidente Bush". Ou, num cenário mais grotesco, na Ribadouro, a ver a volta a Portugal e a compor um "post aberto ao Presidente Bush", antes de efectuar mais uma valente lambuzadela no tripé do João Miranda e introduzir o unicórnio de um bombeiro amigo (sapadores do Montijo) no orifício rectal.

O Tristes Tópicos é muito bom. Acreditem porque eu não digo isto muitas vezes.

24.3.06

St. Marks Place (anos 20/anos 70)


White Rabbit meets Brokeback Mountain

E teríamos uma coboiada homo sob o efeito de LSD. O Easy Rider, por exemplo.

Sei que não vos interessa, mas

Acerca das manifestações parisienses, comenta um amigo: aquilo deve estar impossível e a chatice é que tenho de ir lá daqui a uns dias. O meu amigo tem horror a ajuntamentos de estudantes, a estudantes, a lenços do Arafat e ao cheiro da borracha queimada. Apetecia-lhe muito mais enfiar-se numa pousada de Portugal a comer açorda de tomate. Ou ir até ao Algarve provar um arroz de lingueirão (no Anchova). Ou ficar em Lisboa, fechado em casa, com um DVD da segunda série do Nip/tuk, Coca-Cola sem cafeína e duas caixas de chocolates. Como já se percebeu, o meu amigo é insensível a problemas sociais provocados pela globalização. E está a ficar mais gordo.

Momento Nuno Galopim do dia

Depois de ouvir na telefonia a versão maxi (12 polegadas, if you prefer) de Rage Hard, reconsiderei tudo aquilo que havia pensado sobre os Frankie Goes to Hollywood, dirigi-me à loja de discos e comprei um single dos Duran Duran.

23.3.06

Para os que só agora cá chegam

Neste blog fala-se sobre deslocações ao estrangeiro, cinema pouco culto, música pop com e sem guitarras e uma ou outra excitação do seu proprietário. Não está prevista a publicação de fotografias de top models ou actrizes hype. É possível, mas muito pouco provável, que venham a ser feitos links com elogios (o maior e por aí fora) à cultura e sabedoria futebolísticas do maradona. Prefiro, obviamente, uma derrota do Benfica a uma vitória do Sporting.

Jovem bloquista, levanta-te, vai ao quadro e escreve 100 vezes

As leis laborais rígidas dificultam a criação de emprego
As leis laborais rígidas dificultam a criação de emprego
As leis laborais rígidas dificultam a criação de emprego …

E de repente ocorreu-me

Que Altered States (Ken Russel) é aquilo a que - fosse eu crítico - chamaria de fucking eerie psychedelic piece of cinematic masturbation.

22.3.06

Keep the film spinning

É possível gostar de Johnny Guitar sem ter lido o Bénard. Mas depois de ler o Bénard é-se obrigado a gostar mais de Johnny Guitar. Na educação cinéfila, como se sabe, há o antes e o depois de Bénard. Claro que a grande maioria dos filmes já são vistos no depois de Bénard. E isso, em regra, valoriza-os, engrandece-os, enobrece-os, dá-lhes contexto. Ontem, para não variar, a cinemateca passou Johnny Guitar. Não fui. Mas estou certo que a sala estava cheia de pós-Bénardianos - com mais ou menos golas altas, com mais ou menos óculos de massa - desejosos de assistir à fita e tentar perceber o porquê.

21.3.06

Um minuto

Na próxima semana, vou viajar. Como a ideia é descansar, os novos destinos, com os consequentes esforços físico e mental da descoberta, foram postos de lado. Os maçadores, os demasiado perto e os demasiado longe, pela mesma razão, também. Sobejaram duas hipóteses credíveis. Duas. Depois de hesitar - e de alguma forma influenciado pelos alarmistas alertas de um alarmado dermatologista - acabei por escolher Nova Iorque. Mas o Rio anda sempre cá, bem metido no fundo, nos lados e no meio da cabeça. O Ivan vê bem a coisa. Num minuto pomo-nos lá. Com aquele calor irresponsável, a mancha urbana e a mata atlântica, os moleques de sunga a atravessar a Vieira Souto, o surfista que ao fim da tarde vai pegar onda no Arpoador, o boteco com a coxinha e o chope (estupidamente gelado) depois da praia, o terraço do Marina (este costuma estar vazio), e o assobio de Gilberto Gil logo seguido de um verso tão fino como "Não adianta nem me abandonar / Porque mistério sempre há de pintar por aí ..."
Não se trata de regressar a um sítio onde já se foi feliz. Mas tão só de voltar ao lugar onde se é sempre feliz.

Dos mártires

O poeta é um fingido. Chega a sentir que é desamor a dor que deveras finge.

Adoro promiscuidades

O alt. country nortista, popular e conservador de Jeff Tweedy e dos Wilco misturado com o vanguardismo LaMonteYoungiano de Jim O’Rourke. Podia ser pior. O Na Cama com Alexandra Lencastre, por exemplo.

20.3.06

A Academia tarda mas não falha (II)

Óscar de melhor actor secundário para William Hurt. Em 2016. Por A History of Violence.

18.3.06

Post de sábado de madrugada

Famous Blue Raincoat é a música mais triste do mundo.

17.3.06

E para o fim-de-semana

O chefe recomenda: Amazon, americana ou inglesa; opção 1-click order; esperar. Enquanto isso, para abrir o apetite, ir a este site e ler tudo o que lé está.

16.3.06

Syd Barret

Julliard ... de Matos

Mature and barely legal

Um clássico, agora também em português.

15.3.06

Shakespeare au Congo

Mobutu, Roi du Zaire é um excelente documentário histórico que merecia ser mostrado em todos os cursos de ciência política. Realizado em 2004, por Thierry Michel, o filme segue a vida de Mobutu desde os tempos da soberania belga, quando era apenas um jornalista na exposição mundial de Bruxelas, até à hora do seu exílio e da morte sem glória em Marrocos. Ao longo de mais de duas horas de filme, o realizador, de forma sóbria, dá a sua perpectiva sobre quarenta e tal anos de história do Congo centrados numa só pessoa.

Um a um, os acontecimentos vão-se sucedendo. Da tomada do poder pelo jovem Désiré no início dos anos 60, com a eliminação de todos aqueles que se encontravam hierarquicamente acima dele - entre os quais o primeiro primeiro-ministro e herói da independência, Patrice Lumumba - ao apadrinhamento do novo chefe pelos líderes de todo o mundo (imagens deliciosas na Casa Branca com Nixon e as respectivas "madames"). Da transmutação em divindade, com a máquina de propaganda do governo (liderada pelo espertíssimo ministro da informação Sakombi Inongo) a pôr literalmente o país a dançar, a cantar e a rezar em sua honra, à zairização, com as suas expropriações e nacionalizações selvagens. Da fantochada das eleições às festas dadas na casa da Côte D'Azur, onde o establishment africano pós-colonial e figuras várias do socialismo francófono eram habitués para efeitos de beija-mão. Dos encontros com os seus parceiros privilegiados - Rei Balduíno, Ceausescu, Miterrand e a família Bush - ao início do fim do mito, com o Congresso Para a Reconciliação Popular. Do refúgio interior em Gbadolite (conhecida por "a Versailles da selva") à doença. Do regresso falhado a Kinshasa à humilhação e capitulação perante Kabila.

Todas estas etapas da vida e obra de um dos grandes tiranos do século passado são ilustradas com reveladoras imagens de arquivo e sublinhadas por depoimentos de colaboradores próximos, de diplomatas e de vítimas. Mas os melhores momentos de Mobutu Roi du Zaire acabam por ser as inúmeras declarações de Sese Seko himself. A calma com que afirma as coisas mais inacreditáveis; o cinismo, que de tão descarado chega a ser convicto; a pose majestática e imperturbável. Tudo em Mobutu repele e fascina. A certa altura, quando confrontado pelo entrevistador sobre a violência dos métodos usados para calar os poucos opositores, responde de forma desarmante: "nós (os zairenses) somos Bantus. Somos diferentes. Não somos europeus. Temos as nossas maneiras próprias de resolver os problemas. Não nos queiram ensinar, pois por todos nós elas são aceites. O respeito pelo líder é algo sagrado. Não admite excepções."

Mobutu foi um dos grandes filhos da puta do século XX. Um dos nossos filhos da puta. Alguém que o Ocidente, em tempo de guerra-fria, soube usar como trunfo face a uma África quase sempre hostil. Mas foi também personagem de uma enorme grandeza trágica. Uma espécie de Macbeth sem peso de consciência. Uma lenda viva, cujo trajecto espelha bem aquilo que de pior as "descolonizações exemplares" trouxeram: o despotismo, a cleptocracia, a demagogia mais vil, a corrupção e a repressão.

14.3.06

Lei não escrita

O auto-link é uma modalidade de auto-fellatiação. O auto-lincador é um Marilyn Manson virtual.

O que é a felicidade?

São os curtos espaços que ficam entre as músicas de um disco de Lightning Bolt.

13.3.06

A arte do título

The Day the Earth Stood Still é um dos mais importantes filmes de ficção-cientifica do período áureo do retro-futurismo. A doutrina diverge quanto às interpretações a dar-lhe, e dentro dos SF geeks há quem o adore e quem o deteste. O título é bom. Aliás, logo a seguir ao porno, a ficção-cientifica e o terror, nas vertentes trash e camp, são os géneros que melhores títulos produzem. Senão vejamos:

Assault of the Killer Bimbos
Attack of the Killer Refrigerator
Avenging Disco Godfather
Ferocious Female Freedom Fighters
Gay Niggers from Outer Space
Hollywood Chainsaw Hookers
Mars Needs Women
Orgasm Torture in Satan's Rape Clinic
Oversexed Rugsuckers from Mars
Please don't Eat my Mother
The Positively True Adventures of the Alleged Texas Cheerleader-Murdering Mom
Wham, Bam, Thank You Spaceman

E um dos favoritos cá de casa:

I Killed My Lesbian Wife, Hung Her on a Meat Hook, and Now I Have a Three-Picture Deal at Disney

The day the Earth stood still

Ao futurismo, o conservador prefere o retro-futurismo.

A propósito

A minha edição de A Sexta Coluna é da antiga Colecção Argonauta, com tradução de Manuel de Sepúlveda e capa de Cândido Costa Pinto. Do tempo em que as capas dos livros de bolso davam gosto.



Três exemplos: a primeira capa é de Cândido Costa Pinto e as outras de Lima de Freitas.

10.3.06

A favor do casamento dos gayes

A casa aconselha

Para o fim-de-semana, entrevista ao stand-up comedian Demetri Martin, na Believer. O pior que vos pode acontecer é ficarem a achar que eu dou maus conselhos.

E de repente ocorreu-me

Wittgenstein diz que o filósofo trata a questão (ou a dúvida) como o médico trata uma doença. Não preciso de um médico, mas sim de três filósofos.

9.3.06

Uma heresia para os encartados do lo-fi

Beneath the Rose, a melhor música do (espantoso) disco de estreia de Micah P. Hinson, tem a mais pinkfloydiana, pastoral e bonita guitarra desde a era Atom Heart Mother.

Saudades de Kenny Dalglish


8.3.06

Aritmética do dia

Dia Internacional da Mulher + programa de televisão em canal feminino = grupeta de senhoras e meninas frígidas a discutir orgasmos.

Arrabaldas

Reese Witherspoon é do Barreiro. La macchina conferma e o queixo saliente não desmente. Sucede que, despidos os preconceitos, o Barreiro - tal como o Seixal, o Montijo ou o Fogueteiro -, está pejado de encantos. Bastará uma, apenas uma ida à costa da Caparica num domingo de Julho para constatá-lo. A exploração dos subúrbios não deve ser exclusivo de sociólogos e antropólogos. Nem tão pouco cartada que se joga em situação de desespero. Pois, como dizia o outro, é fácil, é barato e, mais do que se imagina, traz compensações.

7.3.06

Heavy Metal

Não fosse o caso de estar a decorrer um ciclo de David Cronenberg e a exibição de Crash (o verdadeiro), ontem, na cinemateca, correria riscos de ser tida como um statement reaccionário.
Crash é um filme doentio, que, muito compreensivelmente, incomoda, perturba e choca boa parte daqueles que a ele assistem. Aparentemente, trata das perversões de um grupo de tarados que usa os desastres automobilísticos como estímulo sexual. Mas só aparentemente. Se se observar para além da superfície, Crash é um filme de vampiros. E um dos melhores deste género. As suas personagens – todas elas vítimas de acidentes de viação - vão gradualmente transfigurando-se em mortos vivos, que se arrastam de forma apática e pesada de um lado para o outro, normalmente à noite ou para locais escuros, em busca do sangue do próximo. Reconhecem os seus semelhantes ao primeiro olhar e com eles formam uma comunidade com códigos e rituais próprios. Ao contrário do que parece, os choques e os desastres não são um incentivo para o sexo. O sexo é que funciona como um teaser para as espetas. Heterossexual, grupal, homossexual de ambos os tipos, todas as variantes sexuais servem de pretexto para a colisão que se segue. Mais do que carne, os zombies de Crash querem metal. De preferência espetado no corpo. De preferência letal. Pois sabem que, uma vez no estado de vampirismo em que se encontram, a única coisa que os pode salvar da agonia que sentem é a morte. E assim, na última cena do filme, depois de atirar para fora da estrada o carro de Deborah Kara Unger e apercebendo-se que apesar da violência do embate esta permanece viva, James Spader vai ao seu encontro, deita-se ao seu lado, abraça-a, põe-lhe a mão entre as pernas e segreda-lhe ao ouvido: “maybe the next time, maybe the next time”.

6.3.06

A Academia tarda mas não falha


Sempre acreditei que, mais tarde ou mais cedo, o filme de David Cronenberg, com argumento adaptado de J. G. Ballard, musica de Howard Shore e excelentes interpretações de James Spader, Deborah Kara Unger, Rosanna Arquette e (imagine-se) Holly Hunter, iria ganhar o Óscar.

De boas intenções está a noite dos Óscares cheia


Prémio carreira para Robert Altman. Clap, clap, clap.

3.3.06

Máxima sitemeteriana

Quanto mais alto se sobe nos dias úteis, maior é a queda ao fim-de-semana.

Não tenham medo destes freaks


Música pop e América são realidades inseparáveis. A primeira nunca existiria sem a segunda e a segunda, ou o seu imaginário, muito tem crescido à custa da primeira. Por outro lado, tal como a América é a soma de dezenas de Estados com substanciais diferenças a vários níveis, a musica pop é o somatório das muitas musicas pop. Das de anteontem, das de ontem, das de hoje, das mais pop(ulares) e das menos pop(ulares), de todas as correntes e categorias em que se decompõe, condensa e multiplica.

Weird american pop music é apenas uma dessas, virtualmente infinitas, designações. Traz a reboque as ideias de garagem, de substâncias psicotrópicas, de do it yourself, nem sempre com muito talento, mas quase sempre muita pândega. Foi por aí que os Flaming Lips começaram a marcar pontos, já lá vão uns valentes anos.

Ao certo, vinte e dois. Desde o hardcore, mais iconográfico que sónico, passando pela weird freak scene (onde reinaram juntamente com os Butthole Surfers) e pelo psicadelismo épico, até Yoshimi Battles The Pink Robots - um disco duvidoso que no entanto se ouve muito bem -, os Flaming Lipps foram evoluindo/involuindo (riscar o que não interessa) por distintas águas da chamada indie pop.

Mas o que de melhor os Lips fizeram foi o DVD Fearless Freaks, editado no ano passado, com o filme retrospectivo de toda a carreira do grupo realizado por Bradley Beesley. Uma espécie de encontro de Brian Wilson com Roger Corman no CBGB para preparar uma viagem ao Grand Canyon, intercalado com depoimentos de gente vária - membros da banda, avós, vizinhos, irmãos, outras celebridades - e cenas da vida doméstica numa Oklahoma City à beira de um ataque de riso-barra-nervos. Um grande video que faz esquecer por momentos a péssima fama ligada ao conceito de rockumentário.

À entrada



Banquete em honra do tratado de Münster (ou O banquete da milícia), 1648
Bartholomeus Van der Helst

(clicar na imagem para aumentar)

2.3.06

Constatação talvez percipitada

As Pontes de Madison County tem funcionado para Brokeback Mountain como a luva branca da consciência heterossexual romântica.

Descubra as diferenças

- Tu fazes isso amiúdas vezes.

- Tu fazes isso a miúdas, às vezes.

Este Hulk não é da Marvel


Electroacústico, electroestático, electromagnético, electrónico, electroambiental, electrosurreal.

Amesterdão de bolso

Amstel. No seu leito repousa um Samsung NH qualquer coisa. Dentro deste repousam alguns inesquecíveis sms.

Bicicletas. Tal é a abundância que o ladrão, por estas bandas, não é célebre.

Calvinismo. Ao percorrer o extenso canal Herengracht, onde durante o período do apogeu marítimo e comercial holandês a burguesia edificou as suas moradas, percebe-se por que razão o calvinismo é considerada a religião do capitalismo.

Canais. Menos e menos mal cheirosos que os de Veneza.

Classe média. Uma cidade aristocraticamente burguesa.

Companhia das Índias. Para uns, é apenas aquilo que se quer salvar, juntamente com a prataria, quando o direito à propriedade periga. Para a História, fica como o primeiro passo da globalização tal e qual hoje existe. Uma multinacional fundada nos inícios de 1600, com sede em Java e sucursais nos quatro cantos do mundo. Foi também a primeira empresa a emitir acções. Se nada mais a Holanda tivesse dado ao mundo, a Companhia das Índias Orientais bastaria para justificar a sua existência.

Holandesas. Piores que as italianas, gregas, eslavas, portuguesas e nórdicas. Iguais às alemãs. Parecidas com as belgas. Melhores que as inglesas. Maiores que as suíças.

Janelas. Os amesterdanenses, como outros povos do norte da Europa, têm uma fixação: aproveitar ao máximo a escassa luz natural que os curtos dias oferecem. Constroem casas com janelas enormes, quase sempre sem cortinas, estores, persianas ou portadas. Estão-se nas tintas para que olhem lá para dentro. Até porque os interiores são geralmente decorosos.

King Hasan Supreme. Especialidade marroquina, moderadamente recomendável, servida em estabelecimentos de evasão.

Luz. "There is a light that never goes out". Ou melhor, duas: a de inverno, depois de vê-la in loco; e a da escola holandesa do Século XVII, depois de vê-la in loco.

Politicamente correcto. Perante um africano em pose majestática ostentando um opulento casaco de vison (do bom, pareceu-me), o bloquista neerlandês, amigo dos animais e defensor das minorias étnicas, fica baralhado e hesita de spray de tinta em punho.

Red Light District. Quarteirão onde mulheres semi apresentáveis observam através de portas de vidro os modos alarves de adolescentes franceses com acne.

Rijksmuseum. No póquer não há jogo máximo. O royal straight flush é batido pelo póquer mais baixo (normalmente o de setes). No Rijksmuseum também não há um quadro máximo. Se à saída A Ronda de Rembrandt bate todos os demais, à entrada, Banquete em honra do tratado de Münster, de Bartholomeus Van der Helst, não tem qual o supere.

Van Gogh. Tenho um problema com o impressionismo na pintura. Tenho um problema com Van Gogh. Tenho, portanto, dois problemas. Não gosto de nenhum.

(continua)

Separados à nascença


Juntos na prateleira.

Tópicos de reflexão sobre heterossexualidade

Se se perguntar a 100 mulheres heterossexuais o que é que preferem: ver uma hora de sexo explícito entre dois homens ou duas horas de sexo explícito entre duas mulheres, a esmagadora maioria responde: entre duas mulheres.

Se se perguntar a 100 homens heterossexuais o que é que preferem: ver uma hora de sexo explícito entre dois homens ou duas entre duas mulheres, a totalidade responde: entre duas mulheres.

Se se perguntar a dez homens heterossexuais se seriam capazes de, (por absurdo) para agradar a sua mulher, ter uma experiência homossexual, todos dirão que não.

Se se perguntar a dez mulheres heterossexuais se seriam capazes de, para agradar o seu homem, ter uma experiência homossexual, só por muito azar todas responderão que não.

No princípio já estava gasto

Livro de estilo

... Torneremo stanotte alla donna che dorme,
con le dita gelate a cercare il suo corpo ...

Cesare Pavese

Tony de Matos não foi o último dos românticos

I thought you'd be my streetcar named desire
My way - my taste of wine ...