31.10.06

30.10.06

Caetanista, sportinguista, invejoso

O concerto do Chico Buarque em Lisboa está para o caetanista, assim como uma (hipotética) final da liga dos campeões em que entre o Benfica está para o sportinguista.

23.10.06

Teaser II

Teaser

Van Dyke Parks, Steve Albini, Jim O'Rourke, Nick Webb, Bill Callahan ... Juntos e no estúdio.

O barulho é um bom barulho 1


O homem da máscara é Brian Chippendale. De nada.

Castigos corporais

Nada contra discutir o aborto. Desde que todo aquele que abusar de expressões como “hipocrisia”, “século XXI” ou “flagelo do aborto clandestino” seja prontamente açoitado.

Ainda Kléber

Mas a parte do programa de que mais gosto é aquela em que o porcino apresentador agarra o braço da sedutora e grita para o público em casa: “não é prostituta não! É atriz!”

Este senhor é um bom pastor

João Kléber (TVI, Fiel ou infiel) merece bem o ordenado que ganha. Roncar uivos de acirro ao softcore arrabaldeiro e minutos depois pregar a moral para sexagenárias gaiteiras, não é coisa ao alcance de qualquer um.

20.10.06

A Direita desunida jamais será vencida

Porque quando derem cabo de uma, haverá logo outra para tomar o seu lugar.

Separados à nascença (realpolitik)

Para acabar de vez com a cultura

É curioso (e preocupante) que, numa altura em que tanto se apregoa a nova geração “política” nascida no pós-vinte cinco de Abril, liberta dos preconceitos herdados do antigo regime e do PREC, sem “complexos de esquerda”, "sem vergonha de ser de direita”, haja cada vez mais gente a querer definir-se politicamente “à direita” por oposição (convicta ou oportunista - tanto faz) à própria “direita”. Não àquilo que é contingente na direita, mas ao que é substancial.

Os conceitos e as categorias foram inventados por serem úteis enquanto forma de definir e enquadrar factos e realidades. Não por mero capricho de exegetas do mundo e da vida. Se cada um pudesse definir a seu gosto aquilo que cada conceito significa ou as características significantes de cada realidade, a linguagem, a comunicação, a cultura, a civilização, seriam impossíveis. Reinaria o relativismo absoluto. E a lógica não passaria de um paradoxo.

Um estado de anarquia conceptual, onde cada um atribui às palavras o sentido que bem lhe apetece, é um estado bárbaro. Sem qualquer espécie de ordem e inteligência. Para quê as universidades, para quê as academias, para quê a transmissão do saber, para quê o saber, se, afinal, tudo é aquilo que cada um quiser que seja; se, consequentemente, ninguém pode saber ao certo o que cada coisa é.

Politicamente, as pessoas definem-se por aquilo que são, e não por aquilo que querem ser. Alguém é de esquerda ou de direita porque tem uma determinada visão do indivíduo, da sociedade, do Estado e da relação entre estas realidades. Não a visão grotesca e caricatural que por vezes é impingida na análise mediática do combate político. Não necessariamente – nem desejavelmente - uma visão perfeita e íntegra. Mas uma visão coerente entre os princípios essenciais em que acredita e as consequências que deles se retira. Não faz sentido – por exemplo – que alguém se diga defensor da propriedade privada e, na análise de uma situação concreta, dê razão ao Estado que expropria por “dá cá aquela palha”.

Dir-se-á que “esquerda” e “direita” são conceitos essencialmente culturais e históricos. E que, como tal, podem e devem ser revistos ciclicamente. Em algumas das suas características marginais, sem dúvida. Mas no que diz respeito à sua natureza, também ela histórica e cultural, não. Sujeitar a cognoscibilidade dos conceitos ao livre arbítrio revisionista de cada um, é impedir a comunicação.

O mundo humano é história, cultura e compreensão. O Homem é, sobretudo, memória transformada através da inteligência em conhecimento acumulado. Deitar para o lixo séculos de história e cultura, de conceitos que foram sendo construídos, depurados e assimilados, e que permitem a comunicação e o entendimento, “só porque agora me apetece ser original”, é deitar para o lixo a própria noção de civilização e por conseguinte - seja por niilismo conceptual ou por pura ignorância - regressar ao estado meramente animal de onde saímos.

19.10.06

Grandes argentinos

Gram, Durendal, Joyeuse, Excalibur.
Andam antigas guerras pelo verso,
Que é única memória. O universo
Semeia-as pelo Norte e pelo Sul.
Nas espadas persiste a ousadia
Da direita viril, hoje pó e nada;
E no ferro ou no bronze essa estocada
Que foi sangue de Adão naquele dia.
Gestas enumerei de tão distantes
Espadas cujos homens deram morte
A reis e a serpentes. Outra sorte
De espadas há, murais, sempre constantes.
Deixa-me, espada, usar contigo a arte;
Eu, que não mereci nunca manejar-te.

Espadas, Jorge Luis Borges, O Ouro dos Tigres, 1972.

Colectivo animal

16.10.06

Grandes argentinos

Sinónimos

As palavras são importantes. E para as palavras mais importantes não há sinónimos.

O melhor baixo do mundo (II)

(...) Metal Box does what Coltrane's A Love Supreme did for jazz and Sly and the Family Stone's There's a Riot Goin' On did for soul - it proved that the uncompromising cutting-edge could be made accessible, even catchy. The album also killed punk. (...)

O melhor baixo do mundo

A boa loja de discos é aquela que nos faz desistir de trazer para casa as (tantas vezes) dispensáveis “novidades”, e incita a comprar outra vez aquilo que já há muito possuímos. A Ananana é disso um bom exemplo. Fui lá, ver o que havia de novo, e acabei por comprar a Metal Box, o clássico disco dos PIL, numa pesada reedição em vinil.

Porque Metal Box é um daqueles discos que, ouvido num bom gira-discos, soa nitidamente melhor que em cd. O som - metálico como a caixa - ouve-se com uma amplitude fantasmagórica; a voz de John Lydon torna-se ainda mais aterradora; e o baixo - o melhor baixo do mundo - esmaga a atmosfera fazendo tremer as paredes.

15.10.06

Grandes portugueses - o bacalhau

Bloggerum patologicus (IV)

E um dia aconteceu aquilo que já há muito estava para acontecer: A. chegou a casa e encontrou mulher na cama com o blog. Com o seu blog.

Bloggerum patologicus (III)

Se eu fosse o meu blog tu não andavas comigo.

Bloggerum patologicus (II)

Como pessoa não presta. Mas o blog é muito bom.

Bloggerum patologicus

A. tem ciúmes do seu próprio blog, pois B. gosta mais deste do que de si.

F. tem um problema inverso: está furioso porque S. gosta de si, e entedia-se ao ler o seu blog.

13.10.06

David Thomas, o Estúdio, musicas novas e antigas

Philip Marlowe e Jim Thompson; baixo, bateria, guitarras, sintetizadores e theremin; ghost towns and lost highways – como se lê na Wire. O último disco dos Pere Ubu, com o romântico e ficcional título Why I Hate Women, é mais rock clássico que avant gard. David Thomas, fundador, líder, vocalista e essência do grupo, afirma mesmo: (..) that’s why I say that we are mainstream. It’s people like Eminem or Britney Spears who are the weird experimentalists. They are dealing with weird alternative worlds. If you put our view of the human condition alongside Britney Spear’s, one of them is extremely experimental and weird, and it’s Mrs. Spears. Ou seja, que os discos dos Pere Ubu reflectem mais fielmente o que se passa no estúdio, o que é tocado no estúdio, ao contrário de outros (os exemplos dados servem apenas para reforçar a sua afirmação) que são mais feitos pelo próprio estúdio do que por quem lá toca.

Exemplos britneyescos à parte, o Estúdio é hoje, como sempre foi, um enorme artista. Basta lembrar Pet Sounds, o Wall of Sound, as soundscapes de Brian Eno. Por maior que seja o talento do homem, sem o Estúdio, sem a manipulação do som que este possibilita, uma considerável parte da melhor música pop nunca teria existido.

Porque o Estúdio não rejeita épocas, correntes ou lugares. Foi usado sempre, por quase todas e em praticamente todo o lado. A pop negra americana, por exemplo, fartou-se de recorrer ao estúdio para depurar (primeiro) e inventar (depois) muitas das suas músicas (soul, funk, hip-hop). Marvin Gaye, os Temptations (período psicadélico), Steve Wonder, Gill-Scott Heron, George Clinton, De la Soul, tiveram no Estúdio e nas ferramentas que este foi fornecendo, mais do que uma ajuda, um co-autor das suas melhores obras.

Na música pop, o Estúdio é, pois, uma entidade fundamental. Mas ao mesmo tempo neutra. Tanto pode dar origem aos fenómenos grotescos mencionados por David Thomas, como ajudar a criar “weird alternative worlds” onde apetece por demais habitar. É uma questão de escolha. E escolha, graças a Deus, ao capitalismo e à Amazon - não necessariamente por esta ordem -, é o que não falta:

Entre o lixo feito pelo estúdio e as boas obras de Estúdio; entre estas e outras, também superiores, mas em que o estúdio serve apenas de local de gravação; como seja escolher entre os 78 samples de Three Feet High and Rising e os ritmos afunkalhados de Dub Housing; ou entre as orquestrações luxuriantes gravadas no estúdio de Kayne West e o rock cru, agreste, selvagem, ensaiado desde há quase trinta anos pelos Pere Ubu nas arrecadações e garagens de Clevland, Ohio, USA.

12.10.06

Pergunta do dia

Na hierarquia dos direitos, liberdades e garantias, onde é que fica a liberdade de circulação?

De qual?

Tempos houve em que o adorável grito "a culpa é do governo!" era dado na rua, pelas gentes sindicalizadas na CGTP e ala esquerda da UGT. Hoje, ao lado de Carvalho da Silva e da rapaziada da Fen Prof está o meu querido amigo Paulo Mascarenhas. Em parte, sou até capaz de concordar com o Paulo. Basta que consideremos "o governo", aquele que teve à frente Durão Barroso. Aquele que nem metade do pouco que este está a tentar fazer fez.

Guerra preventiva

É como cometer suicídio com medo da morte.

9.10.06

Na ressaca do "momento neocon" (II)

Na América, tal como em Inglaterra ou em qualquer outro país civilizado, existem várias direitas, todas elas com algo em comum, que as une e as caracteriza como “de direita”, mas também todas elas com inúmeros pontos de discórdia.

Um dos campos onde essas divergências se fazem sentir com maior intensidade, é o da política externa. Na América, para além dos neoconservadores, há pelo menos três outras grandes correntes com posições próprias sobre qual deve ser o papel dos EUA face ao resto do mundo: os conservadores realistas, os liberais internacionalistas e os nacionalistas Jacksonianos.

O Iraque foi – e ainda é – um excelente exemplo de como, no que respeita à política externa, nas direitas americanas, existem ideias diversas. Quem esteja atento à política americana, sabe que, antes, durante ou depois, nenhuma destas correntes se eximiu de apontar maiores ou menores críticas à forma como a presidência W. Bush justificou, iniciou e conduziu a guerra. Isto sem prejuízo de, "em tempo de combate", nenhuma ter negado o seu apoio ao exército americano.

A interpretação neoconservadora de conceitos como os de “guerra preventiva”, "excepcionalismo americano”, “hegemonia benigna” ou “intervencionismo democratizante”, foi e é severamente criticada à direita, por várias das direitas americanas.

Os conservadores realistas, na linha de Henry Kissinger, criticam o optimismo desmedido que os neocons colocam na ideia de “nation building”, e um certo utopismo com que, a pretexto da deposição de regimes hostis e da propagação da democracia pelo mundo, embarcam em irresponsáveis aventuras bélicas. Esta corrente, como o próprio nome indica, considera que o primeiro passo para a resolução dos problemas é o de perceber e aceitar a realidade tal como ela se apresenta. E só depois agir, com base no que a realidade é e não no que se gostaria que a realidade fosse. Desconfia, como é natural, daqueles que partem para a acção sustentados em pressupostos fantasiosos (mentirosos), optimistas ou voluntaristas, como alguns dos que estiveram na base da guerra do Iraque (adm, a crença de que a queda de Saddam bastaria para pôr em marcha um processo de democratização irreversível). E atribui um papel relevante à diplomacia e às alianças.

Já os liberias internacionalistas, seguindo a doutrina de Woodrow Wilson, criticam a forma como os neocons, no propósito positivo de tornar o mundo mais habitável, menosprezam e/ou desprezam o ordenamento internacional e as instituições supranacionais.

Por seu lado, os nacionalistas Jacksonianos, embora tenham começado por apoiar a invasão, à medida que esta se foi prolongando e que os seus custos começaram a pesar, tornaram-se ainda mais isolacionistas, voltaram a defender uma "América para os americanos", e acabaram a atacar W. Bush por este querer pôr o país “ao serviço do mundo”, desperdiçando recursos que, segundo eles, poderiam e deveriam ser gastos internamente.

Não interessa aqui tanto saber qual destas correntes é a mais respeitável (pessoalmente acho que a América tem um papel essencial no mundo, mas deve procurar sempre encará-lo de forma realista e nunca messiânica). Interessa, sim, saber que todas estas famílias existem e convivem dentro da direita americana, e que são distintas quanto à análise que fazem, quanto às perspectivas que propõem, quanto à hierarquização das prioridades, isto apesar de muitas vezes confluírem no objectivo final: a América como nação hegemónica e universalmente influente.

Por cá, no que respeita à política externa de Bush pós-Afeganistão e à guerra do Iraque, apenas foram “permitidas” duas posições: "contra" ou "a favor" – e ambas sem espaço para qualquer “mas”. Portugal é um país atrasado, pelo que se percebe que assim tenha sido. Revelando ignorância sobre os EUA e as suas correntes políticas, ou má-fé, uma boa parte da direita portuguesa encarou qualquer crítica à guerra do Iraque como uma manifestação de antiamericanismo (primário). Quem era contra a guerra só podia ser de extrema-esquerda, de esquerda ou – vá lá – de extrema-direita. Só podia ser pacifista, “bloquista”, fascista ou idiota.

Durante quase três anos, vigorou esta visão maniqueísta, propalada, em grande parte, por ex-marxistas e ex-trotskistas arrependidos. Nada de estranhar quando, afinal, na génese do movimento neoconservador – tal como na génese da educação política dos luso-neoconservadores de trazer por casa – está Marx, Trotsky e a crença num "regime moral" que tem de ser imposto a tudo e a todos, a bem ou a mal.

É, pois, com gosto, que finalmente vislumbro aquilo que parecem ser apreciações críticas feitas por gente de direita à presidência Bush e à doutrina neocon, sem que imediatamente sejam atiradas para o caixote do lixo. Algumas vindas de onde menos se esperava (embora a influência de Strauss na administração Bush seja, hoje, no mínimo, discutível). Bom sinal. A direita civilizada tende a ser individualista. Era uma pena que cá tivesse que alinhar toda pela mesma cartilha.

3.10.06

Psicadelismo – História concisa e ilustrada


De Syd Barrett a Captain Beefheart, passando por Rui Tavares*.

*numa belíssima chapa de Rita Carmo para o Blitz, tirada daqui.

Brasil (moral da 1.ª volta)

Lula crê em Deus. Mas Deus é brasileiro.

Observação borgiana por Jorge Luis Borges

Ou seja, o propósito de abolir o passado já ocorreu no passado e - paradoxalmente - é uma das provas de que o passado não pode ser abolido.

Na ressaca do "momento neocon"


....(...) Neoconservatives, like most Americans, from the begining had a strong sense of the potentially moral uses of American power, which has been employed throughout the republic's history to fight tyranny and expand democracy around the world. But belief in the possibility of linking power and morality was transformed into a tremendous overemphasis on the role of power, specifically military power, as a means of achieving American national purposes.
....The decision to use force sooner rather than later, or to emphasize hard over soft power, is typically a matter of prudence rather than principle. Yet the officials who populated the Bush administration, as well as their outside supporters, were more likely to have focused throughout their careers on high-intensity combat rather than post-conflict reconstruction, or defense bugets rather than development assistance, as policy issues. No one was opposed in principle to the use of soft power; they simply hadn't thought about it very much. As the saying goes, when your only tool is a hammer, all problems look like nails. (...)

Para o Henrique Raposo, em grande no seu momento Fukuyama.