30.1.07

Este Homem


Não ia gostar nada disto:

28.1.07

Serviço público de soma + 1

Sacar duas militantes do sim e passar o dia 11 de fevereiro, fechado em casa, a vê-las entreterem-se.

Serviço público de soma zero

Sacar uma gaja do Sim e passar o dia 11 de fevereiro, fechado em casa, a entretê-la.

Serviço público

Fretar uma camioneta para levar velhinhas reaccionárias com dificuldades de locomoção à urna de voto.

25.1.07

Disco* é uma espécie de saturday night

Pois então já aqui tenho de parte o Rod Stewart, com Young Turks (do PP, I presume), Stereo MCs, Conected mas também Deep, Down and Dirty, De La Soul: quaisquer três ou quatro de Three Feet High and Rising; Dee Lite, George Michael - Freedom é garantido -, Ilusion (ponho sempre apesar da malta ficar especada à espera de Arcade Fire), Red Hot (duas criteriosamente tiradas do By the Way a revelar no local), uma versão bastante longa (para enervar os DJ demagogos) de Electric Dreams, e outra ainda maior da Grace Jones a cantar La Vie en Rose; a discografia completa dos Depeche Mode; Pop dell'Arte, porque tem que ser; isto, porque não resisto...


... um pouco de early minimalism ...

.... e os outros que tragam Santa Esmeralda, strokes e Carl Schmitt (speed us away).

* (em inglês)

24.1.07

Argumentos sólidos

21.1.07

Sobre barbas e a perda da inocência


Al Pacino em Serpico e Springsteen circa Born to Run


Serpico, de Sidney Lumet (1973), com Prince of the City (do mesmo Lumet), é o meu filme preferido sobre corrupção na polícia. Pacino, neste papel sem o overacting que tantas vezes estraga as suas interpretações, é um idealista que quer mudar os maus hábitos instalados na polícia. À medida que o filme avança, a sua pilosidade facial cresce. Primeiro o bigode, depois o cabelo, finalmente a barba. Quando todas estas peças se juntam e quase por completo lhe cobrem a cara, Serpico é um homem a abater na esquadra onde trabalha. A realização é Anos 70 vintage. Moral seca em vez de moralismo. Nova Iorque - Giulianni ainda não mandava - cheia de crime, de lixo nas ruas, de criminosos negros e polícias curruptos. Final pouco feliz. Serpico muda qualquer coisa, mas não consegue mudar o mundo. Dois anos depois, em New Jersey, é a vez de um outro Serpico alimentar pela última vez as suas ilusões juvenis. Também tem barba, bigode e cabeleira farta. Assina com o nome de Bruce Springsteen.

Born to Run, conta o documentário que acompanha a edicção comemorativa dos seus 30 anos, demorou dezoito meses a pôr de pé. Springsteen quis controlar todos os acordes, todos os solos, todas as notas. Foram gravadas dezenas de takes para cada música. Às tantas, perdido no meio da imensidão de material em bruto, Springsteen chamou Jon Landau, um produtor de Boston, para ajudá-lo a desembaraçar os nós. Tal como Pet Sounds, Born to Run é um disco de estúdio, onde não há lugar para jam sessions ou improvisações. As letras falam sobre a (boa) ideia de partir rumo a uma vida melhor. Mas a corrida não foi longe. Três anos depois, já não há Serpico para ninguém. Já não há barba nem bigode. Darkness on the Edge of Town é o disco que se segue.


Anotar em todos os dias da agenda

Provas de Contacto, um blog de João Lisboa.

19.1.07

RIP


Art Buchwald, 1926-2007, por todas as razões do costume e mais uma muito especial.

17.1.07

Da determinação

Um homem capaz de declarar a guerra e celebrar a paz, mas que sofre a angústia da pequena decisão. A seguir a agarrá-la pela cintura, hesita entre abrir(-lhe) a braguilha e desabotoar(-lhe) a camisa.

16.1.07

78-82

Na viragem dos anos 70 para os oitenta havia midnight movies, o rock mutante, Ronald Reagan. E tu tinhas acabado de nascer.

13.1.07

Em defesa da família


Last Days of Wonder, The Handsome Family, um dos discos de 2006 que acaba por ser melhor em 2007. Até porque só foi comprado em 2007.

11.1.07

Apocalypto agora

Olhem para os Crumb, olhem para os Crumb

No documentário Crumb, de Terry Zwigoff, sobre a vida e obra do desenhador Robert Crumb – impulsionador do underground comics movement, criador de Keep on Trukin’ e Fritz the Cat, coleccionador compulsivo de 78 rotações (outro reaças musical), amigo de Harvey Pekar, entre muitas outras coisas – impressionaram-me, particularmente, os seus irmãos: Charles e Maxon Crumb.

Ambos tão talentosos como Robert. Mas um e outro com aspecto, trejeitos e hábitos de um bicho. Charles (de cinquenta e poucos anos) surge em casa da mãe, afogado em psicotrópicos, num quarto de onde pouco sai, com um pijama que raramente despe, longe do banho que nunca toma. Maxon (quarentas), por seu lado, vive num fétido hotel em São Francisco, onde passa horas sentado sobre uma cama de pregos, a babar-se e a meditar. Com o tempo, as próprias caras embruteceram, aproximando-se do mongolismo. Razão para a miséria humana: os traumas sexuais que ambos sofreram durante infância e adolescência. A indiferença, o desdém ou o asco que suscitaram nas meninas que conheceram. O filme é de 1994. No mesmo ano, Charles suicidou-se (consta que ainda virgem). Max é um solitário que mendiga nas ruas e atormenta chinesas no metropolitano. Quando vejo os nossos self deprecated sexuais tenho vontade de rir. Olhem para os Crumb. Olhem para os manos Crumb. E dêem graças pelo sucesso que têm.


... e Robert (Crumb) só se safou porque ficou famoso

10.1.07

old school

Bombardeiem o que quiserem. Mas não aterrem, não invadam, não instituam, não instaurem e, sobretudo, não capturem o tirano. Um dia ainda há-de fazer falta.

9.1.07

Bom em todas as cabeleiras





A ideia é pô-los todos a tocar ao mesmo tempo.

4.1.07

If it has more than three chords, it's jazz

O prefácio de Philip Larkin para a segunda edição de All What Jazz (faber and faber, 1985) - o livro que reúne as críticas que publicou no Daily Telegraph entre 1961 e 1970 - é uma das mais contundentes manifestações de reaccionarismo musical que até hoje li.

Larkin começa por declarar e descrever o seu amor pelo jazz clássico - dos founding fathers, como King Oliver, Jelly Roll Morton ou Sidney Bechet, até às bandas de swing "brancas" de Benny Goodman ou Glen Miller, com passagem pelos grandes e pequenos nomes da "idade de ouro", Louis Armstrong, Ray Nobles, Duke Ellington, Bubber Miley ou Count Basie. O jazz de que aprendeu a gostar enquanto estudava em Oxford, tocado e gravado antes da segunda grande Guerra, com melodias trauteáveis e ritmos dançantes. Um jazz que, nas suas palavras, era "the music of happy men". E que de súbito, um dia, deixou de o ser.

Para Larkin, terminada a Guerra, dificilmente se pode falar em jazz. É com espanto e horror que descreve o aparecimento do bop e a entrada em cena de Charlie Parker, um homem que, segundo nos conta, "couldn't play four bars without resorting to a peculiarly irritating five-note cliché from a pre-war song called The Woody Woodpecker Song". Em cerca de dez páginas, Philip Larkin, um nostálgico da great american music na linha de Woody Allen, desfaz com arte e humor todo o jazz "moderno". De Monk ("a not-very-successful comic, as his funny hats proclaimed") a Coltrane ("gigantic absurdity, great boring excursions on not-especially-attractive themes ..."), passando por Miles Davis ("Davis had several manners: the dead muzzled slow stuff, the sour yelping fast stuff, and the sonorous theatrical arranged stuff, and I disliked them all").

Aos ouvidos de Larkin, tudo o que era então novo soava mal - é verdade que ainda não tinham aparecido Housemartins nem Happy Guillotineros - e com tendência para piorar, à medida que o calendário avançava. A novidade não era o máximo. Pelo contrário: o free jazz é qualificado como um ultraje. Ornette Coleman, Albert Ayler e Archie Shepp, como uns impostores. "By this time I was quite certain that jazz had ceased to be produced. The society that had engendered it had gone, and woul not return", sentencia, pesaroso, Larkin .

Este é um maravilhoso texto reaccionário, do qual, como é óbvio, discordo. Para além de adorar a maioria dos nomes que Larkin despreza, não acho que a essência do jazz tenha sido subvertida com o fim do período clássico. É certo que se intelectualizou, o que deu azo às maiores aldrabices e charlatanices. É certo que se colou muitas vezes a movimentos políticos, o que o levou a algum pedantismo. É certo que se tornou menos melódico e apelativo, e logo pouco popular. Mas a originalidade desta música persistiu. As suas características primeiras permaneceram. O swing não desapareceu. Mais ou menos contaminado por corpos estranhos, o jazz continuou a ser a música que os escravos inventaram a apartir dos instrumentos abandonados pelos soldados brancos no fim da Guerra de Secessão. Hoje, menos happy, mas tocado por homens com barriga mais cheia.

2.1.07