30.5.06

Mais um D (de desinsetização)

Portugal, cada vez mais tropical, abençoado por Deus, rodeado por mar e frequentado por mosquitos, traças, borboletas, Borboletões, abelhas, moscas, larvas, melgas, joaninhas, aranhas, pulgas, carraças, caramujos, lesmas, besouros, vespas, libelinhas, percevejos, vaga-lumes, drósofilas, centopeias, cupins, carunchos, piolhos, formigas, escaravelhos, carochas, grilos, gafanhotos, térmitas...

29.5.06

Tenho ideia de já ter visto um "beijo gay" na SIC


(clicar na foto para rever o filme)

26.5.06

Regressos, ressurreições e aparições

O Franco Atirador está de volta e com ele a melhor selecção pictórica da blogoesfera. No blog da Atlântico, não obstante o bonito e intimidatório template, já é permitido dizer palavrões. E o também regressado Daniel Oliveira, para não variar, traz consigo a Nossa Senhora de Fátima.

25.5.06

Escrever blogs

A expressão "escrever blogs" (de "hoje escreveste algum blog?") denota um certo desprendimento. Revela que quem a usa não conhece a fundo as especificidades técnicas da coisa: que o que se escreve são posts e não blogs; que blog é uma contracção de web log e o lugar onde se editam os posts; que se fazem links; que há quem "acabe" e quem "interrompa"; que existe o João Miranda, etc. Também gosto muito da frase "hoje tirei o blog para ler", dita pelos info-excluídos que imprimem em papel o conteúdo da página. Ou, melhor ainda, "hoje pedi para tirarem o blog", por aqueles que pedem a outrém, alguém, não interessa, para lhes imprimir o dito. Esta gente faz falta à blogoesfera. Entretém-se com ela e não nos maça com sacralizações estapafúrdias. Preservemo-la.

Bom

12 que na realidade são 14, entre o solitary man épico e arrebatador e o songwriter melodioso e kitsch (sei que para muita gente é redundância), numa tentativa conseguida de chegar perto do melhor Springsteen, dos calcanhares de Johny Cash e do olhar de Deus, com produção cuidadíssima para um som cheio, encorpado, bem apresentado. Se fosse um gajo novo e bonito seria capa da velha Rolling Stone. Se fosse inglês seria amigo do Jarvis Cocker. Se fosse francês teria os rock snobs a estenderem-lhe passadeiras. Se fosse português tocaria no metro da Avenida da Igreja. Como é americano, nascido no Brooklyn e bem recebido no midwest, vai limitar-se a vender muito. Muito e Bem. Há pouco disse bom. Emendo para muito bom. Já lá vai o tempo em que tínhamos vergonha de gostar destas coisas.

23.5.06

Música sem letras

O ar tornou-se mais respirável desde que Tim Goldsworthy, James Murphy e Jonathan Galkin fundaram a DFA Records e criaram o ambiente para que apareçam discos como este Lindstrom & Prins Thomas (aconselhado em primeira mão pelo Pedro Adão e Silva).

22.5.06

Sábado à tarde cruzei-me com diversos carros e algumas camionetas que transportavam o mulherio da “mai bela bandeira do mundo”. Filmado de helicóptero aquilo ainda passa. Agora ao pé, meus amigos, nem com a cara tapada pela bandeira.

21.5.06

O óbvio "Manel do Laço"

No momento em que o Barcelona marcou o primeiro golo (uma falha da defesa) e percebi que iria ganhar a liga, fiquei fodido. No momento em que marcou o segundo (um frango), fiquei mais fodido. Eu estava, claro, a torcer pelo Arsenal. Quando o jogo acabou, tive vontade de insultar alguém. E resolvi insultar o maradona, que é uma espécie de "Manuel do Laço" do Barcelona (estou a vê-lo com ar de serial killer, o chapéu de coco e o laço ao pescoço a dar corridinhas à volta do Camp Nou para alegria da affición).

Foi então que escrevi um post - com o link propositadamente omitido - onde de forma primária disse que o Barcelona não tinha jogado nada e que teria sido muito mais engraçado se o Arsenal tivesse ganho. Pelo meio introduzi a expressão "amaricada". E depois fiquei à espera que o astro Manel do laço enfiasse a carapuça.

Passados dois dias, o astro de Laço, com a espinha dos filetes de há uns meses entalada na garganta e a carapuça enfiada até às unhacas dos dedos dos pés, sai-se com este post. Parece que não me enganei: tal como o Barcelona, o Zé Manel do laço é um gajo previsível. Se alguém se atreve a entrar na sua coutada e, de alguma forma, se desvia do perorar dos seus sermões, ainda para mais associando-lhe qualquer coisa a ver com maricagem (estamos perante um homofóbico clássico), o gajo atiça-se e sente-se impelido a mostrar serviço.

E que serviço. Como de costume, um textículo iluminado, carregado de sabedoria e de argumentos, mais argumentos, imensos argumentos. Gosto particularmente deste: «É como se eu fosse "do Samuel Johnson", e por isso andasse para aí a falar mal do Shakespeare.» Não tanto pelo tom xunga, mas pela ideia quadrada que lhe subjaz: há certas coisas que são de tal forma superiores que não faz sentido criticá-las por comparação com outras de que, eventualmente, gostemos mais. O maradona do laço, que de burro não tem nada, sabe que esta ideia - sedutora, mas pouco original no exemplo que utiliza - de maneira alguma se pode aplicar ao futebol. Paul Johnson nunca jogou contra Shakespeare. E na bola, 99% das pessoas passam o ano a "falar mal" dos "Shakespeares" que derrotam as suas equipas. Nós somos do Sporting. O que seria se tivéssemos que ser objectivos.

O segmento sobre a troca de bolas também é memorável, mas a besta de laço, uma vez mais, desvia as atenções da realidade. O Barcelona, a seguir a marcar o segundo golo, limitou-se a trocar a bola dentro do seu meio campo, sabendo que com menos um e a moral feita em merda o Arsenal dificilmente recuperaria. Não passou da linha central. É eficaz? É, Manel. É ético? Who cares. Mas mostra medo, num contexto em que, no mínimo, é pouco simpático mostrar medo.

Mais adiante, e sem sequer ter a amabilidade de fazer uso da vaselina salicilada que costuma trazer consigo, o Zé do Laço penetra os terrenos da desonestidade intelectual. Ainda que muito indirectamente, sugere que o Barcelona da Final da Taça (ou o deste ano, tanto faz) tem alguma coisa a ver com o Brasil de 1982, e, consequentemente, tudo o que eu disse a propósito daquele repeti-lo-ia em relação a este. Ora, se assim fosse, dúvidas não restariam que o tal post seria uma enormidade. Só que assim não é. O Barcelona e a tal troca de bola amaricada do jogo da final está a três oceanos ao quadrado de distância do Brasil de 82. O Brasil trocava a bola avançando no terreno. O Barcelona trocou a bola como a Alemanha e Áustria desse mundial trocaram: de forma estaticamente circular, cobardola, para guardar um resultado suficiente, quando o risco de jogar bem era praticamente nenhum.

O Zé Fernando do Laço, que de idiota não tem nada, quer provar por A mais B e pela sexagésima oitava vez que o Barcelona é melhor que o Arsenal e que ganhar é melhor que perder. Está de parabéns, pois conseguiu fazê-lo. Aliás, tratando-se de uma missão quase impossível, só mesmo o benemérito da causa mAMA o poderia fazer. Demostrou o óbvio. Um óbvio que só aquela cabeça inimputável teima em julgar que mais ninguém vê. Estou a imaginá-lo, a altas horas da madrugada, com o prato de papa Cerelac ao lado, a ruminar: "este gajo! parece impossível! Agora já nem reconhece que a vitória é um valor em si mesmo. Foda-se! Tenho que escrever um post. E amanhã acordo cedinho para ir dar um passeio de bicicleta."

Numa parede ao pé de minha pode ler-se: "O mundo é um lugar escuro, ilumina a tua parte". O Zé Madeira de Laço ao pescoço, faz mais: ilumina-nos a todos com a sua genialidade. É tão brilhante, tão reluzente que faz mal à auto-estima nacional. Dou dez salvas de palmas a quem o puser a ler repetidas vezes a série "Música e ironia" para ver se assim perde algum do génio que carrega e passa a habitar patamares de aceitabilidade social.

O Fernando Jorge do laço fica chateado com gente que não sabe ver futebol. Para além disso, é um gajo que por trás de uma aparente irreverência gosta muito do respeitinho. Respeitinho pelo senhor presidente Jorge Bush. Respeitinho pelo senhor professor dr. Aníbal Cavaco da Silva. Respeitinho pelo senhor jogador Ronaldinho Gaúcho. Aquela cabeça, que não serve só para dar cabeçadas na bola durante os jogos da praceta, aborrece-se quando não vemos ou não mostramos o devido respeito pelas coisas maravilhosas que se passam à nossa frente e para as quais ele - visionário, visionário - faz o favor de nos chamar a atenção. É uma grande cabeça. Temos que a aproveitar melhor.

A terminar, um elogio sincero. Atentem nesta frase: "Quando se celebra o Brasil de 82 não se celebra uma hipotética vitória estético-moral da derrota, mas sim o campo por excelência (o Desporto) onde a impossibilidade material na concretização terrena de um mundo idílico só tem como consequência a derrota num jogo." Isto é tão bom que eu até fico a pensar se não terá sido escrito pelo Nelson Rodrigues.

18.5.06


Os últimos dez minutos da final da Taça dos Campeões foram das coisas mais maçadoras a que se assistiu desde que a televisão começou a ser transmitida em Portugal. O famoso carrossel do Barça - uma troca de bola amaricada entre vários jogadores por entre risinhos e saltinhos -, duas ou três aproximações à área, zero remates, zero fintas, zero golos. Tivesse o Barcelona marcado primeiro e, muito provavelmente, todo o jogo teria sido assim. Os deslumbrados e patos bravos da bola virão sempre falar da abertura e do toque de cú do Ronaldinho, da inteligência do Deco a jogar com os olhos, da presença do Eto que assusta a três metros e embaraça a um, disto, daquilo e daqueloutro. Mas o que se viu foi uma equipa a fazer um jogo cobardola, depois de ter sido aprendiz numa lição de bem jogar em contra-ataque que só não fica para a história por não ter sido letal. As emoções que a final da Liga provocou devem-se em exclusivo ao Arsenal. O Barcelona, previsível até mais não, limitou-se a ganhar. Uma chatice.

Música para cargas e descargas

Brellianos ortodoxos de todo o mundo podem ficar descansados. Inimigos da grandiloquência melódica podem baixar as armas. Combatentes do ultra-romantismo podem sair das trincheiras. Ainda não é desta (nem será de nenhuma outra) que Scott Walker regressa ao seu passado. Ao crooner que em tempos foi. The Drift, tal como o anterior Tilt, não tem nada a ver com o Scott Walker dos primeiros discos. The Drift é um corpo estranho, numa época em que pouca coisa é capaz de provocar estranheza. Atmosfera fantasmagórica cortada por textos impenetráveis declamados em tom operático. Sons concretos e descargas súbitas de ruído massivo. Uma mistura de War Requiem com John Cage. E ao fim do dia - que é como quem diz: ao fim do disco - a sensação de ter sobrevivido a uma carga de pancada.
A música pop não mora aqui. The Drift faz lembrar Ascension de John Coltrane ou Mulholland Drive de David Lynch. Obras que começam por provocar desconforto na pele e estupefacção na mente, mas que, sem se perceber quando, como ou porquê, deixam lá a semente a germinar. Como diria o rock snob: rewards repeated listens.

A propósito de maternidades

A lição de liberalismo blogosférico da semana: uma medida liberal, quando tomada por um governo socialista, afinal não é bem liberal.

16.5.06

Quatro peditórios onde não me apanham a dar

Bispos progressistas,
Nobreza (falida ou não) de esquerda,
Roqueiros com consciência social, e
Filósofos com mulheres boas.

Gostar de homens ©



Saul Bass. Pelos genéricos de Hitchcock, Preminger e Scorsese (o de Casino é uma obra-prima dentro de outra obra-prima). E por Phase IV, o único filme que realizou, uma distopia animal em que as formigas são quem mais ordena.

Para se gozar plenamente o calor é indispensável ter uma parte do corpo exposta ao frio

Ritmo, cadência

Uma mãe chama o filho: João, ó João, João, ó João ....
Uma amiga chama outra: Maria, ó Maria, Maria, ó Maria ...
Uma avó chama o neto: Ruben, ó Ruben, Ruben, ó Ruben ...
Uma patroa chama pela criada: Isménia, ó Isménia, Isménia, ó Isménia ...

Eu percebo que as mães chamem os filhos, que as amigas chamem as amigas, que as avós chamem os netos e até que as patroas continuem a chamar pelas criadas. Só não consigo perceber porque é que, perante a ausência de resposta, têm todas que invariavelmente alternar o substantivo próprio com um "Ó substantivo próprio".

10.5.06

Por que compro o Expresso

Sobre o João Lisboa, Ricardo, pode dizer-se que é, de todos os seres nascidos nesta terra, o que melhor escreve sobre a música pop/rock de que a blogosfera gosta (Ricardo Saló e Rui Miguel Abreu tratam de coisas menos blogger friendly).

E pode ainda transcrever-se este excerto de um texto sobre o disco dos Pop Del'Arte:

"Escutar POPlastik 1985-2005, enfim, obriga a pensar no que terá acontecido para que os vinte intermitentes anos da música de uma banda de existência errática continuem a estar a anos-luz da maioria dos seus contemporaneos (e não só esses) em actividade: João Peste - Brel-lisérgico, Pierrot Lunair Dada, Burroughs de viela a despenhar-se, entre neons, de um trapézio em "technicolor" - e a sua trupe de admiráveis ilusionistas sonoros lançaram gasolina sobre as sinapses da pop portuguesa, atrapalharam-se com os isqueiros e deixaram-nos ficar a ver as imagens por entre as labaredas. O incêndio ainda não foi dominado."

Ter ou não ter

É óbvio que defendo políticas de incentivo à natalidade, e não, não é só para que haja mais milfs. É para que o país possa, senão crescer, pelo menos sobreviver. Por opção política - sou a favor da procriação, seja dentro ou fora da família -, por razões demográficas e só acessoria e conjunturalmente por motivos económicos. Para que haja gente, primeiro, e só depois para que haja dinheiro. Dinheiro esse que servirá, ente outras coisas, para pagar impostos e naturalmente a segurança social.
A questão do incentivo à natalidade pode pôr-se de duas formas: premiar aqueles que têm filhos (ou mais filhos) ou penalizar aqueles que não têm (ou que têm menos). Em abstracto, havendo uns que vão ter um tratamento mais favorável que outros, poder-se-á sempre falar em prémios e penalizações. Em concreto, porém, partindo da realidade actual, o que defendo é uma melhoria da situação (a nível fiscal, desde logo) para os que têm ou venham a ter mais filhos e não a penalização daqueles que não os têm. O Estado deve retirar menos a todos, mas menos ainda aos que têm mais gente a seu cargo.
É óbvio que cada um é livre de ter ou não ter filhos. Não precisamos de estar sempre a invocar os mesmos espíritos: a liberdade, o direito à escolha, o individualismo, blá blá blá, etc. Mas o que é diferente pode - e, às vezes, deve - ser tratado de maneira diferente. Uma família ou uma pessoa com três, quatro ou cinco filhos, não é exactamente a mesma coisa que uma família ou uma pessoa sem filhos. É objectivo. É - como dizem os colunistas - facto. Depois, há quem defenda (eu, como já se percebeu) que em certos aspectos uns e outros devem ter tratamento diferente e há quem defenda que não. Pelas mais variadas razões, sejam políticas, económicas, religiosas, esotéricas, whatever. E não só - nem sobretudo - para resolver o problema da segurança social. Pois, se for apenas para isso, há soluções mais baratas: matar as velhas, que os velhos morrem logo a seguir.

8.5.06

I wrote a letter to a wildflower
on a classic nitrogen afternoon

...

A melhor música de American Water é, no entanto, The Wild Kindness. Porquê?
Por imensas razões. E esta é apenas uma delas.

Random rules

Toda a atenção para dentro. Para concluir que, depois de quatrocentas e oitenta e sete horas a ouvir American Water, o antepenúltimo disco dos Silver Jews, quem se encontra à beira do internamento hospitalar por ter chegado tão perto da perfeição, sou eu.

4.5.06

Goodfellas



Da esquerda para a direita:

- Haile Selassie, Rastafari, Deus e Rei da Etiópia
- Sherif Ali, Emir de Meca, mascarado de Omar Sharif
- O nosso Ricardo Gross
- Rei Faisal, rei da Siria e do Iraque
- Auda abu Tayi, líder beduíno
- Moh-Ali, aka Mohamed Ali

Ando a ler Moby Dick. E a interrogar-me, página sim página sim, sobre o que andei a fazer até agora.

Trazer tudo para casa

Feitas as contas e ressalvados alguns pormenores que nos separam, eu sou como Seymour, a personagem que Steve Buscemi encarna em Ghost World. Gente que essencialmente colecciona coisas. Tralha. Stuff.

2.5.06

Gostar de mulheres

Emmanuelle Seigner e Kristin Scott Thomas. Alguns anos antes de Mulholland Drive, de L Word, de Madonna e da respectiva amiga.

Gostar de homens ©

Peter Coyote. Sobretudo por Bitter Moon, de Roman Polanski.
Oscar - a personagem que interpreta – atravessa o filme numa carruagem de montanha russa. Desce de um estado de romantismo exasperado até às mais sórdidas perversões sexuais; passa de autor das maiores crueldades de que a espécie humana é capaz a vítima de obscenas e degradantes humilhações; chega a sentir uma felicidade pura para acabar paralisado da cintura para baixo, um bocadinho cínico, um bocadinho infeliz, um bocadinho tonto, um bocadinho lúcido. Tudo isto com o mérito maior de ter (sem desmerecer) Emmanuelle Seigner como par.

© Voz do Deserto